Dias atrás terminei de ler o romance A Descoberta da Escrita, do autor norueguês Karl Ove Knausgård, que é comparado ao “Proust” dos nossos tempos. A obra é uma aula para aqueles que creem que o talento para escrita é inato. Karl narra sua trajetória de escritor, cheia de altos e baixos, revelando de forma sincera aquilo que os escritores jamais deveriam esquecer: escrever não é fácil.
Tornar-se escritor é sempre desconfiar daquilo que se escreve. É submeter o texto a si mesmo com honestidade. A arte não tolera a arrogância do artista. Porque fazer literatura é se colocar numa espécie de servidão diante da palavra. Não se escreve para vencer o texto. Escrevemos para sermos derrotados pela literatura. Isso significa dizer que o autor que leva o seu ofício com seriedade sabe que escrever é chegar à exaustão. Significa parar diante do texto e admitir: não consigo mais.
Knausgård também mostra com extrema sinceridade a sua dificuldade em lidar com a crítica. A falta de experiência e o ímpeto juvenil leva o personagem a situações constrangedoras e de mau-caratismo. O livro nos diz que atacar a crítica é um erro crasso para quem está começando. É claro que a crítica não é soberana. É claro que ela pode errar. No entanto, quem decide se ela acertou ou não é o tempo.
Lembro quando pedi para um amigo ler os originais do meu primeiro romance. Eu era jovem e achava que havia feito uma obra-prima. Confesso que estava à espera de elogios. No entanto, após a leitura, meu amigo fez uma crítica dura. Sem confetes. Sem condescendências. Foi difícil e pensei em desistir.
Hoje penso que por mais dura que a crítica tenha sido, ela me salvou de uma escrita medíocre. Em tempos de redes sociais, com textos rápidos, cria-se a ilusão de que elogio é crítica. Não é. O papel da crítica literária é mais profundo. A crítica ilumina o texto, o que não significa revelar apenas o que há de melhor, mas também aquilo que rebaixa ou empobrece a arte. Um autor que não desconfia da própria escrita é um autor a caminho do fracasso, diria Karl.