Hamlet foi o primeiro livro que li de Shakespeare. Eu tinha 25 anos e, embora não houvesse, aparentemente, nada em comum com os dilemas do príncipe da Dinamarca, creio que a imagem do pai fantasma, a hesitação diante da tomada de decisão, as angústias ou as reflexões sobre vida e morte me aproximaram daquele personagem. Foi com Shakespeare que talvez eu tenha compreendido que viver era mais grave do que imaginava.
Depois vieram Rei Lear, Otelo e Macbeth. Esta última acaba de ganhar uma adaptação irretocável do cineasta Joel Coen. Protagonizado por Denzel Washington e Frances McDormand, A Tragédia de Macbeth é sem dúvidas um espetáculo visual. As imagens em preto e branco, os espaços internos praticamente sem objetos e o jogo de luz e sobra remontam ao mesmo um certo estilo barroco e de cinema Noir.
Além disso, a adaptação acerta ao naturalizar Denzel Washington, um homem negro, no papel de um general escocês do século 11. Aliás, é possível dizer que quase metade do elenco principal é composta por atores negros. Tal naturalização já vem sendo vista em outras produções americanas como Bridgerton, por exemplo. Essa aparente diversidade na ficção é importante, embora saibamos que ela não corresponde aos fatos históricos e que ela segue uma tendência do mercado cinematográfico para angariar mais público.
O enredo de Macbeth é simples: trata-se de um general do exército real, ambicioso e homicida, e que após ser convencido por uma profecia de que se tornará rei sucumbe à própria vaidade, assassina o rei e toma-lhe o lugar. Macbeth, que no início parece retratar um herói cheio de virtudes, traz um drama repleto de traições, corrupções, tirania e desejo pelo poder a qualquer custo.
Entretanto, o mais assombroso é a semelhança da célebre frase de Macbeth com o nosso cenário político. “A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, sem sentido algum.” Shakespeare se atualiza no tempo e essa frase poderia muito bem servir de chapéu para todos os integrantes do atual governo brasileiro, não acham?