A exposição sobre a vida e a obra de Carolina Maria de Jesus, no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, proporciona uma imersão afetiva, política e estética no mundo da escritora. Com dois andares, o visitante tem acesso a textos, objetos e fotos raras. Além das associações com a atualidade e uma disposição sofisticada dos elementos que remetem à escrita de Carolina.
Algumas entrevistas em vídeos da autora também podem ser vistas na exposição. Numa delas, já com mais idade, residindo num sítio, Carolina é entrevistada por um repórter agitado, quase folclórico. Em dado momento, ele pergunta se é melhor morar no sítio ou na favela. Com serenidade, Carolina responde que prefere o sítio porque gosta da natureza. Certamente a resposta frustrou o jornalista, que talvez esperasse algo atrelado ao discurso da pobreza.
Mais adiante, o repórter questiona se Carolina é feliz. Naquele momento me comovi. Não pela indagação, mas com o gesto dela. Porque vejam o peso dessa pergunta para quem passou o que Carolina passou. O peso de uma pergunta para quem alcançou o reconhecimento e a notoriedade, mas que ainda vivia sob signo do exotismo, do racismo e do machismo.
Me comovi, pois, antes de responder, Carolina baixou os olhos, como se estivesse refletindo. Era um gesto filosófico. Um gesto de quem não sede ao deslumbramento, nem à pressa do espetáculo midiático. Após alguns instantes, Carolina responde com a serenidade e a firmeza delicada de quem sabe algo grave sobre a vida: “Eu não sei”. Não havia tristeza em sua afirmativa, mas sabedoria. Pois não era uma resposta simples. A felicidade não é feita apenas de momentos grandiosos. A felicidade pode ser fácil, mas não é banal. E Carolina sabia disso.
Outra parte marcante da exposição foi o conjunto de fotos em que a escritora aparece sorrindo, ou em momentos que quebram com uma única narrativa da pobreza e da favelada. São imagens de Carolina diante da máquina de escrever. Ou no aeroporto, com um avião ao fundo. Certamente a excelente exposição faz justiça à grandeza de Carolina.
