A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O ano de 2024 se despede deixando duros recados sobre crise climática e sobre danos cada vez mais severos que o desalinho da natureza pode causar na produção agrícola. Adaptar-se ao momento do clima está entre os maiores desafios do agronegócio em 2025. Mas não só.
Economista e pesquisador do Insper, Lucas Borges cita ainda outros obstáculos de ordem interna e externa que estarão no radar da atividade ao longo do próximo ano. Do crédito caro à variação do dólar, o setor precisará estar atento às contas e às demandas globais para produzir.
— Viemos de um cenário bem difícil de crise climática e sustentabilidade é um tema que não há mais como ficar de fora. Precisamos cada vez mais estar adaptados às normas globais — diz Borges.
A seguir, veja cinco pontos que serão desafios para o agro em 2025.
Sustentabilidade
O efeito das secas e das inundações na produção agropecuária, com perdas que vão dos danos materiais ao arrasto da camada fértil das lavouras no Rio Grande do Sul, implicam em uma série de adaptações na atividade, inclusive sobre a forma de se produzir.
Mais do que se antecipar às intempéries, a evolução do modelo produtivo abre a possibilidade de conquistar novos mercados. Conforme o economista, há uma tendência no setor de aderir às normas ambientais globais, como a redução do desmatamento e o cumprimento de práticas ligadas ao ESG (sigla em inglês para compromissos de ordem ambiental, social e de governança).
O momento leva a um crescente incentivo da adoção de práticas sustentáveis, como integração lavoura-pecuária-floresta e o sequestro de carbono, já realidades no RS. O impacto se concretiza em maior acesso a mercados globais e à valorização dos produtos sustentáveis, que devem ganhar ainda mais importância em 2025.
Oscilações do câmbio
Depois de bater recordes em 2024, a valorização do dólar frente ao real tende a permanecer em alta, pelo menos na largada no ano. O efeito, que em geral é positivo para as exportações de produtos agrícolas brasileiros, eleva também os custos para se produzir.
Insumos como fertilizantes, agroquímicos, sementes e máquinas têm uma grande parcela importada. Mais de 80% dos fertilizantes aplicados nas lavouras vêm de fora do país, por exemplo. Com o dólar alto, os custos desses produtos aumentam, impactando diretamente a margem dos produtores, lembra o economista.
Além disso, o aumento das exportações, estimulado pelo dólar alto, pode reduzir a oferta de alguns alimentos no mercado interno, pressionando os preços para o consumidor final.
Alta dos juros
A elevação na taxa básica de juros, atualmente em 12,25% e com dois novos ajustes já sinalizados até o fim de março, tem impactos no valor do crédito que vão desde o aumento no custo dos empréstimos à pressão sobre os gastos para produzir.
O agronegócio está entre os setores que mais dependem de crédito para financiar a atividade. Com os juros mais altos, o custo dos financiamentos rurais, portanto, também aumenta. Pequenos e médios produtores costumam ser os mais afetados neste cenário.
Juros mais elevados também desestimulam investimentos em tecnologia, diminuem a capacidade de adquirir insumos e adiam projetos de médio e longo prazo, como a aquisição de máquinas novas ou construção de infraestruturas.
Acordo entre União Europeia e Mercosul
O avanço nas tratativas para que o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, enfim, saia do papel, reaqueceu as expectativas — de preocupação e de oportunidade, para o agronegócio brasileiro.
Entre os efeitos positivos, o negócio entre os blocos tende a reduzir tarifas de importação de produtos agrícolas brasileiros, ampliando o acesso a um mercado globalmente significativo. Itens como carne bovina, frango e soja, com produção relevante no RS, poderão se beneficiar. Do lado negativo, porém, a entrada de produtos agrícolas europeus a preços mais competitivos pode aumentar a concorrência de itens brasileiros como vinhos, queijos e azeites de oliva.
— Caso seja implementado, terá um impacto significativo no agronegócio brasileiro, tanto em oportunidades quanto em desafios — avalia o pesquisador.
Agricultura de precisão
Ainda que o uso da tecnologia seja cada vez mais frequente nas atividades relacionadas ao campo, como a utilização de sensores e dados em tempo real para monitorar safras, de implementos digitais que otimizem o uso de insumos e da inteligência artificial para administrar e melhor aproveitar os recursos, o setor ainda tem como desafio saber aplicar os recursos tecnológicos de forma estratégica.
Entre os pontos a serem melhor explorados, diz o pesquisador do Insper, estão o foco no aumento da eficiência, na redução de custos em maior escala e na atenção ao menor impacto ambiental possível.