A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Reduzir a dependência de fertilizantes que vêm de fora é um dos grandes desafios da agricultura no país, principalmente diante de entraves geopolíticos mundiais. O processo passa por estimular o mercado nacional, e, neste campo, o Rio Grande do Sul é peça-chave para impulsionar a produção brasileira como um todo.
O Brasil é dependente da importação de 90% dos fertilizantes hoje consumidos pelo agronegócio.
Segundo o Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-primas para Fertilizantes (Sinprifert), o Estado, com o Porto de Rio Grande, é o terceiro maior importador de fertilizantes do país, atrás de Santos (SP) e Paranaguá (PR), outras grandes portas de entrada do produto estrangeiro.
Mas é, também, o segundo maior polo industrial e de capacidade instalada para a fabricação dos adubos, atrás apenas de Minas Gerais.
Investimentos recentes têm servido de vitrine para o protagonismo gaúcho. Na última semana, o Estado deu um passo importante nesse sentido, com o aval para a instalação de um projeto de mineração de fosfato em Lavras do Sul, na Campanha. O minério pode ser destinado à elaboração de fertilizantes para uso na agricultura.
A empresa Águia Fertilizantes recebeu licenças para operar o empreendimento Três Estradas, com investimento estimado em até R$ 40 milhões. O projeto de planta sustentável, com uso de energia solar e certificado de carbono neutro, também recebeu aporte de R$ 15 milhões de crédito via Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE).
A expectativa é de que o projeto gaúcho incentive a produção em outras regiões.
— Estamos trabalhando com os Estados-chave para esse desenvolvimento, e o Rio Grande do Sul é um deles, não só como consumidor, mas como potencial produtor de adubos — diz Bernardo Silva, diretor-executivo do Sinprifert.
O projeto em Lavras, por exemplo, poderá suprir em até 15% a demanda gaúcha. Somadas a outras iniciativas já em operação, como da Yara Fertilizantes e da Timac Agro, em Rio Grande, podem reduzir ainda mais a dependência do produto importado. São grandes investimentos que, juntos, somam cifra bilionária em aportes e mostram que o Estado pode ampliar o interesse no setor.
Segundo Silva, o incentivo à produção nacional também passa pela pauta da sustentabilidade, porque “quanto maior a produtividade por hectare, menor a necessidade de expansão de área agrícola”. E aqui, novamente a vocação gaúcha ganha espaço, com exemplos a destacar.
O Rio Grande do Sul foi um dos primeiros a realizar envios de fertilizantes via cabotagem — transporte marítimo entre portos, com acondicionamento dos produtos em contêineres. O escoamento ágil é considerado fundamental para reduzir o impacto ambiental no setor, eliminando o transporte rodoviário e reduzindo o gargalo logístico.
O outro exemplo vem da área de inovação, com o agronegócio cada vez mais investimento em parcerias de biotecnologia para o desenvolvimento de novos produtos.
— O RS é um polo de inovação de novos fertilizantes de origem biotecnológica. Escolha que também passa pela presença de mão de obra qualificada e capacidade de escoamento. É um Estado que sai na frente do demais — avalia Silva.