O levantamento mensal feito pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) da inflação do agronegócio mostra bem o tamanho do impacto que a guerra tem (ou melhor, que não tinha) no cenário de custos para o produtor. O recorte apresentado reflete a agora obsoleta realidade de fevereiro, quando o índice dos gastos do agricultor gaúcho teve redução de 0,5% sobre o mês anterior. Condição que estava posta por questões de sazonalidade e pela expectativa que se tinha da retomada da normalidade de oferta global de fertilizantes.
— Esse dado ainda retrata o cenário de antes do conflito. E qual era? De custo em queda. Janeiro e fevereiro ainda refletem essa expectativa das cadeias globais produtoras de normalização da oferta de fertilizantes. Ainda não aparece o impacto da guerra — pontua Danielle Guimarães, economista da Farsul.
No acumulado de 2022, o índice dos custos de produção caiu 0,95%.No acumulado de 12 meses, entretanto, ostenta alta de 40,11%, confirmando o efeito que foi sentido pelo produtor no bolso ao longo de 2021, quando as incertezas em relação ao abastecimento de adubos (e outros insumos) alimentou a escalada de preços, tornado a safra de 2021 a mais cara da série histórica.
— O índice do acumulado de 12 meses retrata mais o passado, e os últimos 2 meses, o viés da conjuntura pré-conflito e expectativa pós-pandemia. Provavelmente no relatório do próximo mês esteja presente o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia no preço dos fertilizantes — acrescenta Danielle.
Em relação aos preços recebidos pelos produtor, a redução de oferta em razão da estiagem deve manter a valorização do produto. Somente em fevereiro, o aumento foi de 8,76% em relação ao mês imediatamente anterior. No acumulado do ano, a expansão chega a 15,74%. Em 12 meses, de 13,16%, o que também evidencia a influência da redução na colheita nas cotações.
—A variação dos preços reflete muito a expectativa de oferta. E como é uma das maiores secas, é provável que se veja aceleração de preços por essa escassez — frisa a economista.