A missão presidencial brasileira que desembarca em território russo nesta semana tem entre as pautas previstas buscar garantias do fornecimento de fertilizantes. A preocupação com o tema faz sentido por uma combinação de fatores, que vai do percentual do insumo que o Brasil precisa importar para dar conta da demanda à crise energética na Europa, que fez a Rússia impor um período de restrições de alguns itens. Situação que se converteu em apreensão para a produção agrícola nacional, em razão das consequências de uma eventual falta do produto.
A inquietação é amparada por números. Conforme dados compilados pela Cogo Inteligência em Agronegócio, o Brasil é o quinto maior consumidor de fertilizantes, mas tem apenas 2% da produção global. Para dar conta da demanda, precisa importar entre 80% e 85% do volume usado. Nesse contexto, a Rússia tem uma fatia importante, com 20% do fornecimento desse insumo.
Nitrogênio, potássio e fósforo entram como ingredientes básicos de fertilizantes. E em alguns deles, a dependência dos russos é ainda maior. É o caso do nitrato de amônia (que está com o fluxo bloqueado por período de seis meses): 98% dos cerca de 1,5 milhão de toneladas importadas pelo Brasil vêm da Rússia.
— A Rússia é um fornecedor significativo, um parceiro importante no comércio mundial de fertilizantes — reforça Reginaldo Minaré, diretor-técnico adjunto da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O consultor em agronegócios Carlos Cogo avalia que a implantação da cota russa para exportação de nitrogenados e as indefinições com as tensões geopolíticas entre Rússia e Ucrânia são fatores importantes com relação à oferta de fertilizantes no primeiro semestre, junto com a permanência das restrições chinesas nas vendas externas de adubos e sanções norte-americanas e europeias à Bielorrússia.
Nem ele nem Minaré veem, no entanto, risco de desabastecimento do insumo no mercado interno brasileiro.
E para que servem?
Em 2021, o Brasil importou mais de 41 milhões de toneladas de fertilizantes, quantidade recorde. O uso do insumo tem relação com o atendimento das necessidades nutricionais da planta.
— Nitrogênio, fósforo e potássio são os insumos básicos para a produção, que vão em grande quantidade. São nutrientes essenciais para a planta se nutrir, se desenvolver e produzir — explica o diretor técnico da Emater, Alencar Rugeri.
Na tentativa de reduzir a dependência externa, está em curso a elaboração de um Plano Nacional de Fertilizantes.