No quesito custo, o produtor gaúcho já tem a certeza, apontada pelos números, de que o plantio da safra de verão ficou mais caro. O índice da inflação do agronegócio medido pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) aponta o maior percentual de aumento desde o início da série histórica em 2010. Em 12 meses chegou a 26,92%. Mas há preocupação com outro risco: dificuldade na entrega de insumos.
– Os produtores que irão partir para a compra a partir de agora têm o dobro do custo. E existe a dificuldade de um certo apagão, que se fala, principalmente em fertilizantes e no RoundUp (glifosato). Isso em razão da pandemia – alertou o vice-presidente da entidade, Elmar Konrad.
As dificuldades apontadas são tanto na logística marítima, para recebimento, quanto na de caminhões. Ou seja, há uma combinação, no momento, de preços mais altos e entraves logísticos.
O calendário de plantio da safra de verão no Estado se intensifica a partir de outubro.
– É uma posição que ainda não está dimensionada, mas vai depender dessas logísticas. Um fornecedor me colocou que, se falhar um navio, ele fica mal, e eu também – completou o vice-presidente da Farsul.
Presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS), Paulo Pires diz que as empresas sinalizam com a entrega – as cooperativas atuam na revenda aos associados. Ele pondera que há “um atraso geral de matérias-primas, pelos atrasos marítimos”. E que a cautela tem sido adotada no momento.
Com participação de 25% no mercado nacional de adubos, a norueguesa Yara pontuou, em nota, que “diversos setores têm enfrentado importantes desafios em suas cadeias de suprimento com a retomada global pós-pandemia”. E que a situação dos fertilizantes “não é diferente”, com desafios logísticos adicionais trazidos pelo “forte crescimento na demanda em 2021”.
A companhia, que investiu R$ 2 bilhões na ampliação da unidade no porto de Rio Grande, acrescenta que monitora a situação, com ação integrada “para avaliar todos os cenários, os desdobramentos e as alternativas viáveis, buscando mitigar possíveis impactos”.
Esse descompasso logístico já afeta outros segmentos do agronegócio, como o das indústrias de máquinas agrícolas, resultando em maior tempo de espera na entrega das compras feitas pelo produtor.