O descompasso logístico criado em águas marítimas com o advento da pandemia segue produzindo ondas de turbulência no comércio internacional. Uma delas tem chegado até o porto de Rio Grande. O aumento do frete, em razão da alta demanda, é apontado como um entrave às exportações de arroz. É o que informa a Abiarroz, que mapeou aumento médio de 170% em pesquisa com associadas. Diretor de Assuntos Internacionais da entidade, Gustavo Trevisan acrescenta que, se repetido neste momento, o estudo apontaria média ainda maior, de 300%, mas podendo chegar a até 500%:
— Neste momento, o que está pesando é a alta absurda do frete marítimo. Independentemente do preço, hoje não há disponibilidade (de navios para o transporte).
Os números mostram que no primeiro semestre houve uma redução de 41% nos embarques do cereal, em relação a igual período de 2020.
Diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Arroz do Estado (Sindarroz-RS), Tiago Barata pontua que, por ser um produto de pouco valor agregado, o cereal acaba ficando em posição desigual em relação a outros itens transportados em contêineres.
Uma reunião no porto gaúcho com armadores (principais donos das frotas de navios, que operam fretes marítimos internacionais) está prevista para este mês. O superintendente Fernando Estima explica que a ideia é atuar na mediação, em busca de alternativas para o problema que é global:
— Há, literalmente, um desencaixe das importações e exportações da China, pós-pandemia, que teve um boom. Está faltando contêiner.
O preço e o interesse pela China subiram demasiadamente e isso tirou contêineres vazios do mercado para essas entregas.
Na prática, a elevada procura tem feito com que muitos armadores optem por inverter o processo habitual, que usa o contêiner que vem de importação para levar exportação e vice-versa. Muitas companhias têm optado em “devolver” a estrutura vazia, para não ter de esperar o tempo necessário para a colocação do nova carga.
Renê Wlach, diretor comercial do Tecon, acrescenta que a esse descompasso de oferta e demanda há agravantes. Como o de que só três empresas na China produzem contêineres para o mundo todo, o que fez o preço da estrutura em si subir.