Parte das medidas buscadas pelas indústrias de carne na tentativa de frear a alta dos custos, a autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) sobre variedades transgênicas abre caminho para a entrada do milho americano. A norma, publicada nesta quinta-feira (16) no Diário Oficial da União, permite que uma carga tenha mais de um tipo de organismo geneticamente modificado, desde que todas sejam já aprovadas no Brasil e em outros países. Na prática, dá segurança legal pra trazer o grão dos Estados Unidos. Até então, não se permitia a mistura de variedades diferentes, cada uma tinha de ser checada.
— A autorização, que vínhamos pedindo desde o ano passado, é um avanço, sim. É um primeiro passo. Se é viável do ponto de vista econômico, terá de ser avaliado — observa José Eduardo dos Santos, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).
Diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RES (Sips), Rogério Kerber concorda: preço, cotação do dólar, logística, tudo isso precisa ser levado em consideração. Cálculo da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio mostra que, neste momento, o valor da saca de 60 quilos de milho tem no produto americano a maior cotação: R$ 110,42. O produto brasileiro fica em R$ 93,27 (no interior de São Paulo) e o argentino, em R$ 88,82.
Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) avalia que o grão dos EUA entra como alternativa:— São misturas que podem acontecer naturalmente. Só está dando mais segurança jurídica, possibilitando a importação — reforça Santin.
E o produto dos Estados Unidos, maiores produtores e exportadores de milho, surge como opção para além dos fornecedores brasileiros do Mercosul. Com mais players na jogada, a expectativa é de que se estabeleça algum tipo de teto para o valor do grão — que, em 12 meses acumula variação de 102,6% no mercado interno brasileiro, aponta a Asgav. Ingrediente da ração animal, tem impactado fortemente sobre os custos de produção da carne. Dados da Embrapa mostram que, em 12 meses, o aumento nas despesas soma 45,05% no frango e de 47,25% no suíno. E qual o alcance dessa medida no curto prazo e sobre os preços de venda ao consumidor?
— O que se espera é que o custo comece a baixar até o final do ano. E depois, vai se estabilizar. Mas o preço (da carne) ainda não "terminou" de subir. O frango produzido com custo alto não vai para prateleira na mesma hora, são 45 dias do animal comendo ração — explica o presidente da ABPA.
Mesmo com a alta já verificada — de 14,69% no frango em pedaços no país, segundo dados do IBGE —, ainda há uma defasagem de 30 pontos percentuais na recomposição do custo, pontua Santin.