Se tudo der certo, o Rio Grande do Sul poderá começar a reduzir sua dependência em importação de fertilizantes em pouco mais de um ano. O projeto Três Estradas, da Águia Fertilizantes, que prevê investimento de R$ 130 milhões para produzir fosfato natural em Lavras do Sul, destravou.
A coluna ficou sabendo pelo gabinete do deputado Luiz Fernando Mainardi (PT), que conforme o CEO da Águia, Fernando Tallarico, ajudou a abrir caminho para o projeto. O Três Estradas já tem licença prévia (LP), e espera receber a de instalação (LI), que autoriza a obra, em cerca de três meses.
O projeto, detalha Tallarico, prevê a produção de 300 mil toneladas ao ano de fosfato natural, sem aditivos químicos, em um processo que descreve como "zero água, zero carbono e zero balanço energético", com possibilidade de vir a gerar créditos de carbono. O CEO da empresa é um executivo da área de mineração que pesquisou jazidas pelo Brasil a partir de 2009. Na época, lembra, a dependência de importados no Brasil era de 50%. Hoje, está estimada em cerca de 90%, agravada pela guerra na Ucrânia.
— Esse problema parece relativamento novo, mas é velho, é uma crise que está piorando. O Brasil é líder em commodities agrícolas mas não tem fertilizantes. Por isso, quis começar uma empresa para descobrir minerais que pudessem se prestar à indústria nacional.
Na hora de desenhar o projeto, relata, pesou sua experiência no setor:
— Sempre me causou desaprazer ver operações desleixadas, malcuidadas. Decidi que faria o oposto, com muito zelo ambiental. Esse projeto de Lavras do Sul, o Três Estradas, vai ser um exemplo em mineração. Vamos ter uma unidade de geração de energia solar. É um projeto completamente inovador, com credenciais que nenhum outro de mineração no Brasil tem. Tenho muito orgulho disso.
Tallarico pesquisou reservas em Minas Gerais e na Paraíba antes do Rio Grande do Sul. Quando encontrou as jazidas gaúchas, mudou-se de mala e cuia para o Estado, onde criou a empresa. Disse já ter investido quase R$ 90 milhões, dos quais cerca de R$ 16 milhões só com licenciamento ambiental. Mas, se a Águia ainda não tem receita, como já investiu tudo isso? Conforme o empresário, a empresa buscou recursos nas bolsas de valores de Toronto, no Canadá, e de Sydney, na Austrália, que têm tradição em projetos de mineração com retornos no longo prazo.
— O Rio Grande do Sul é melhor do que qualquer outro lugar, tem mais infraestrutura, mais qualidade de educação e de mão de obra, tem geólogo, agrônomo, engenheiro florestal.
O empresário relata que tem 300 hectares em Lavras do Sul, dos quais vai usar 50 na mineração. Quer transformar os outros 250 hectares em uma área de preservação, com árvores nativa, área de lazer e em fonte de geração de créditos de carbono.
E como a coluna afirmou lá no início, o projeto estava travado. O problema foi um tanto inusitado: o Ministério Público Federal de Bagé havia entrado na Justiça pedindo o reconhecimento de pecuaristas familiares como "povos tradicionais", equiparando-os a indígenas e quilombolas. Os produtores fizeram um abaixo-assinado para dizer que não se reconheciam dessa maneira. Finalmente, a Justiça Federal de Bagé afirmou que não existe interesse da União no assunto, extinguindo o caso.
— Perdemos um ano, mas agora a Fepam nos passou um lista de 14 páginas com perguntas e nos deu 60 dias para responder. Espero devolver em 45 dias. A bola está comigo, depois volta para a Fepam. Esperamos que a licença final saia em dois ou três meses, e que, em meados de 2023, a unidade esteja em produção.