A descarbonização da atividade agropecuária e as questões relacionadas ao clima aparecem como temas centrais na Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, no norte do RS. Os tópicos estão presentes em painéis da edição deste ano e são também oportunidade de negócio para modernizar as propriedades rurais.
Tudo começa pela ciência. Experimentos para medir o quanto as produções são capazes de emitir ou reabsorver gases estão em largo desenvolvimento. No Rio Grande do Sul, iniciativas lideradas pela Secretaria da Agricultura aplicam os estudos em culturas modelo, como a erva-mate. O equipamento está sendo demonstrado na feira como forma de aproximar a pesquisa da realidade do produtor.
Montado sob a sombra das árvores, o aparelho quantifica o balanço de carbono em tempo real. A cada 20 segundos, a máquina mensura todos os gases que são emitidos, avaliando também a qualidade desta emissão. As informações coletadas conseguem mostrar o potencial de cada sistema produtivo. Na prática, permitem aos agricultores fazerem melhores escolhas do ponto de vista sustentável.
— Cada vez mais a produção agropecuária vem sendo visada do ponto de vista negativo, quando, na verdade, muitos sistemas de produção já vêm trabalhando com práticas que mitigam as emissões de gases de efeito estufa. São informações essenciais para se levar à sociedade e que serão peça-chave até na questão de comercialização dos produtos — afirma um dos nomes à frente da iniciativa, o coordenador do Comitê Gestor do Plano ABC+ RS e pesquisador da Seapi Jackson Brilhante.
As coletas dos fluxos de gases começaram pela erva-mate para dar continuidade a outros projetos que já eram realizados com a cultura. O Rio Grande do Sul é um dos principais produtores da planta. Outros trabalhos com o arroz irrigado, por exemplo, e a sua integração com outras culturas, como a soja, estão em estudo. Os dados da pesquisa servirão de base para o setor como um todo.
A planta como solução
O planejamento sobre o uso da terra foi a grande sacada encontrada pelo produtor e engenheiro agrônomo Maurício de Bortoli, que implementa produção de referência nas suas lavouras no município de Cruz Alta. Desde 2010, De Bortoli aplica técnicas como o uso de plantas de cobertura, as chamadas “plantas de serviço”, conciliadas à produção comercial de grãos.
Foram as condições frágeis de terreno e as estiagens frequentes que fizeram o produtor buscar alternativas. Junto ao plantio direto, os resultados das técnicas que buscam tirar o melhor proveito da própria terra tornaram a fazenda uma referência em sistema produtivo sustentável.
Cultivadas nas janelas entre uma cultura e outra, em período em que a terra estaria ociosa, as plantas de cobertura devolvem ao solo os nutrientes necessários para manter uma condição saudável e produtiva para os próximos plantios.
— São práticas que caminham com a agricultura moderna. Nada se cria, tudo se regenera, tudo se transforma, e posso usar a planta como solução para a própria planta. A gente produz com um compromisso de ser mais eficiente na atividade, mas também de deixar um legado sustentável. Não adianta produzir deixando o ambiente em desequilíbrio — diz De Bortoli.
E há métricas para isso. O produtor destaca que há muitas ferramentas disponíveis no mercado para se mensurar o impacto das atividades. O programa Carbono Bayer, lançado em 2020 para auxiliar os agricultores na adoção de práticas regenerativas, é uma das referências. Segundo a companhia global, os benefícios estimados pelas técnicas sustentáveis são de ganho médio de mais de 11% de produtividade e 16% de sequestro de carbono. Atualmente, mais de 1,9 mil agricultores brasileiros participam do PRO Carbono, o programa de agricultura de baixo carbono da Bayer.
— Não vejo como o produtor se manter ou estar presente no futuro da atividade se não passar a ter isso na cultura dele — reforça De Bortoli, sobre a urgência de modernizar os modelos de produção.
Motores do futuro
Dos dados aos cultivos, o baixo carbono também se materializa em inovação. Na área de máquinas, segmento que ocupa quase a totalidade do parque da Expodireto, são cada vez mais comuns os motores voltados à menor emissão de gases poluentes, a exemplo dos tratores movidos a biocombustíveis como biodiesel e biometano.
Um estudo nacional realizado por SAE Brasil e KPMG sobre Tecnologia no Agronegócio, Oportunidades, Desafios e Perspectivas mostrou que 37% das pessoas ouvidas acreditam na forte expansão do uso dos biocombustíveis como o biodiesel nas máquinas agrícolas. Outros 32% citam o diesel verde e 15% o biometano.
A Massey Ferguson é uma das fabricantes que vem investindo no desenvolvimento de motores voltados especialmente às atividades agrícolas. As tecnologias permitem economizar, em média, 30% do consumo de combustíveis, reduzindo, consequentemente, a quantidade de emissões.
— São motores agrícolas que trabalham com baixas rotações. Isso garante uma eficiência de queima de combustível maior, atendendo a uma necessidade de descarbonização. Paralelamente, estamos trabalhando em projetos olhando para outros combustíveis sustentáveis, que sejam eficientes e viáveis economicamente — explica Lucas Zanetti, gerente de marketing de produto da Massey, citando estudos em análise que incluem também o abastecimento elétrico para as máquinas.
No estande da marca na feira, um dos lançamentos é um pulverizador que reaproveita o produto utilizado, retornando parte dele para o tanque. Além de reduzir o impacto no ambiente, evitando a aplicação em excesso, a máquina traz economia de produto para o agricultor, aliando sustentabilidade ambiental e financeira.