
Talvez você nunca tenha ouvido falar de Virgínia Fonseca, a influenciadora que movimentou o Senado nesta terça-feira (13) ao depor na CPI das Bets. Trata-se de uma celebridade de internet, com 53 milhões de seguidores no Instagram, conhecida por compartilhar seu dia a dia de mulher rica nas redes sociais, em vídeos que envolvem o marido, o cantor sertanejo Zé Felipe, e os filhos.
O que levou Virgínia Fonseca a uma CPI no Senado? O fato de fazer propaganda para empresas de jogos online desde 2022, quando foi garota propaganda da Esportes da Sorte.
Apesar da seriedade do assunto, os senadores aproveitaram a presença da celebridade para ganhar alguns minutos de fama. Nenhum superou o senador Cleitinho, do Republicanos de Minas Gerais, que pediu para fazer um vídeo com a influenciadora para a esposa e a filha e ainda se declarou consumidor de produtos que ela divulga. O clima circense acrescentou mais um tijolo na imagem de inutilidade das CPIs, não importando o assunto que investiguem.
Em dado momento, a influenciadora comparou a situação dos jogadores que apostam nas Bets e perdem tudo com a dela, que ano passado apostou R$ 10 mil na Mega da Virada e não ganhou o prêmio. A comparação não poderia ser mais absurda. Porque R$ 10 mil para uma pessoa que ostenta riqueza em viagens, roupas, calçados e tudo o que possa “influenciar” é menos que R$ 1 para quem ganha salário mínimo e se endivida para jogar.
Virgínia foi aconselhada a parar de fazer propaganda para casas de apostas e disse que vai pensar no caso, mas lembrou que as bets estão nas camisetas dos jogadores e em todos os estádios de futebol — o que é a mais pura verdade. Ela não é a primeira nem a única famosa a fazer propaganda de jogos que viciam, destroem famílias e assustam até os bancos, pelo aumento da inadimplência, o comércio, pela redução do consumo.
A CPI deveria se preocupar com a manipulação de resultados, envolvendo atletas, com as empresas que ainda operam de forma ilegal e com as famílias endividadas porque um dos seus membros gasta com jogos o que deveria ir para o supermercado.
Até dinheiro do Bolsa Família tem sido canalizado para casas de apostas por pessoas que imaginam sair do atoleiro por meio do jogo. Há bancos que na hora de liberar um empréstimo já estão conferindo se o cliente é um jogador contumaz — e negando quando constatam que a pessoa faz vários Pix no mesmo dia para um site de apostas.