Depois de duas safras consecutivas que não deixaram saudade, o campo dá sinais de uma colheita pródiga desta vez. Enquanto a lavoura faz sua parte, no entanto, o mercado não se mostra muito receptivo. O preço das commodities despencou, enquanto os juros não caem no mesmo ritmo, ainda que indiquem arrefecimento.
A despeito desses contextos passageiros, o produtor parece compreender, cada vez mais, que investir em produtividade é a saída para continuar crescendo. Colher em maior quantidade, otimizando custos e reduzindo a necessidade de insumos faz com que a rentabilidade cresça e, de quebra, ainda ajuda a equilibrar a relação com o meio ambiente.
— Em 2022 e 2023, tínhamos as commodities com pregos altos, juros mais baixos e o produtor com rentabilidade muito grande. Essa rentabilidade diminuiu, então acredito que tenhamos uma certa dificuldade para vender este ano. Mas estou otimista em função das grandes melhorias e novidades que estamos implementando nas máquinas. O agricultor sabe que, comprando máquinas mais modernas, vai produzir mais no mesmo pedaço de chão — analisa o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier.
Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, o produtor brasileiro está pagando a conta da falta de infraestrutura do país. Ele considera esta, hoje, a principal agenda do agronegócio.
— Temos condições de produzir muito mais, gerar riqueza, renda, impostos, mas precisamos de estrutura para poder vender. Somos uma ponte do dinheiro que está fora do Brasil para a economia brasileira. Mas, para vender, é preciso entregar. E estamos com uma dificuldade muito grande. Sem dúvida, esta é a principal razão dos pregos baixos das commodities — sustenta.
Por outro lado, ele repete um mantra que diz ter aprendido na faculdade: investimento se faz avaliando a viabilidade econômica, e não um recorte momentaneo — é preciso olhar os proximos 10 anos. Ou seja, mesmo com o pre¢o baixo das commodities, se o negocio é viável, deve ser feito. A questão é que, segundo ele, isso precisa ser visto caso a caso, não existindo um cálculo que possa ser replicado. Assim como investir quando os preços estão altos, apenas porque os preços estão altos, é errado, deixar de fazé-lo agora pode comprometer o negócio nas próximas safras, por falta de produtividade e competitividade.
Depois da incerteza, safra deve ter bom resultado
Das últimas quatro safras, apenas uma foi considerada boa. As duas mais recentes, inclusive, foram péssimas. Quem faz esse balanço é o superintendente da área de Produção Vegetal da Cotrijal, Gelson Melo de Lima. Depois da tempestade, uma tímida bonança: 2024 não será um ano histórico quanto ao volume de produção, mas vai superar com tranquilidade o El Niño que ameaçou bastante o cultivo.
— O quadro na área de soja vinha em desalento total. O que nos impulsionou com visão mais otimista para esta safra é que todas as previsões eram de um El Nino bem forte, mas ele veio de uma forma que pudemos trabalhar bem — resume.
As chuvas atrasaram o plantio, derrubando o potencial produtivo das lavouras. Além disso, a umidade dá margem para o aparecimento de ferrugem asiática, principal vilão da soja. Depois de dois anos de estiagem, muitos produtores abdicaram de se preservar nesse sentido, tendo maior dificuldade para lidar com o problema agora. O trabalho dos técnicos tem sido fundamental para garantir que a doença não comprometa o resultado.
— De qualquer forma, teremos uma safra boa, o que é muito bom também para a feira. O produtor chega com outro ânimo para continuar cuidando e investindo na cultura. O preço de agora preocupa, mas, tendo volume de produção, acaba comercializando em algum momento — compreende Lima.
Tecnologia e inovação que viram rentabilidade
Nos últimos quatro anos, o mercado de máquinas e implementos agrícolas atendeu produtores que buscavam essa inovação e, também, a expansão da área plantada. Já para este ano, a expectativa está mais voltada à reposição.
No entendimento do presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos, não há fôlego para aumentar o terreno, nem estímulo em função do preço das commodities. Em compensação, ele concorda que as novidades são um atrativo — e até uma necessidade — para os produtores.
— Você tem a chamada agricultura 4.0, que trouxe muita tecnologia embarcada nas máquinas, que têm uma capacidade de conexão à internet e de juntar dados tanto do meio ambiente quanto da operação, para depois utilizar essa informação a fim de fazer uma gestão melhor da fazenda. Seja no controle de frota, seja nas questões agronômicas, e tudo isso culminando na parte econômica — comenta.
Bastos ressalta que esse fenômeno tem sido observado com mais intensidade nos últimos sete anos. Isto significa que muitos produtores ainda trabalham com máquinas “peladas”, como define, apontando para a tendência de trocar de equipamento para ter acesso a toda a tecnologia desenvolvida desde então.
Um pulverizador sem qualquer automatização, por exemplo, pode chegar a um desperdício na casa dos 15% durante a aplicação de defensivos. Já um moderno, equipado com tecnologias como fechamento inteligente de barras, GPS e sistema de regulagem, ocasiona perdas que ficam entre 2% e 3%, causada pelo cruzamento de área, que ocorre intencionalmente, para que não fique nada descoberto.
Em outras etapas, como o plantio, evita-se a sobreposição de sementes e o excesso de adubação, otimizando o uso de insumos. Tudo isso, no fim das contas, faz bastante diferença no bolso do produtor.
É o caso de Alex Siqueira, de Relvado, que trocou o Valtra BM 100 por uma versão mais nova, o BM 135. Ele produz milho para silagem e grãos, além de criar suínos e bovinos de leite e de corte. Pensando em renovar a frota, já havia feito um consórcio e foi contemplado em novembro de 2023.
— Optei por esse modelo pela força e robustez, além da economia de combustível, porque é a minha renda, onde sobra o meu ganho. Consigo fazer silagem, semeadura, pulverização, todo tipo de serviço — elogia.
Para renovar a frota ou expandir a área plantada, o importante é que o produtor compreenda a importância de investir em maquinário com foco na produtividade. Como propulsora de inovação, a Expodireto busca reafirmar seu papel em 2024 ao reunir o que há de mais avançado neste sentido.
— É uma grande feira de tecnologia. O primeiro passo para venda, para o investimento do produtor em determinado produto, é conhecê-lo. Nem sempre, ao observar determinada nova tecnologia, o produtor está apto a fazer o investimento naquele instante, mas ele jamais fará o investimento se não conhecê-lo — defende Antônio da Luz.
O economista entende que o sucesso do evento está garantido, pois coloca o volume de vendas em segundo plano, no fim das contas. Além do mais, a feira tem se destacado por promover o debate de grandes temas do agronegócio gaúcho e brasileiro.
— Todo mundo tem que participar. Se o produtor vai fazer investimento, se o expositor vai vender mais, ou menos, durante os dias da feira, é assunto secundário — pontua.