O produtor rural brasileiro é multicanal e está à frente do restante do mundo quando o assunto é inovação. O diagnóstico foi um dos insights levantados pela pesquisa Inovação no Agronegócio, cujos dados foram apresentados durante o 22º Congresso Brasileiro do Agronegócio, em São Paulo, nesta segunda-feira (7). O evento é promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e pela bolsa brasileira, a B3.
Nelson Ferreira, sócio e líder global de agricultura da McKinsey & Company, que apresentou os resultados da pesquisa, enfatizou o perfil de vanguarda. Segundo o especialista, os agricultores brasileiros são ávidos por inovação e lideram em mais de um item listado no levantamento de cobertura global.
Em digitalização, por exemplo, tópico em que todos os anos o Brasil aparece em primeiro lugar, o último dado mostra que 70% dos produtores estão usando canais digitais para várias frentes de trabalho nas suas fazendas, da compra de insumos à comercialização dos produtos.
O Brasil também está na frente em tecnologias associadas à sustentabilidade. Práticas como integração lavoura pecuária, agricultura regenerativa, cobertura de solo e adoção de produtos biológicos são exemplos de práticas já bastante adotadas no país. A participação em programas de carbono, no entanto, ainda é baixa. Mas é pequena no mundo todo, pondera Ferreira. Ele acrescenta que nenhum outro país tem a capacidade do Brasil de converter terras degradadas que podem ajudar no sequestro de carbono, outro trunfo do país.
Para o futuro, o pioneirismo em inovação irá além, com a Inteligência Artificial. Para Ferreira, a IA tem capacidade para ampliar o conhecimento agronômico "e será a nossa próxima vanguarda". Os desafios, no entanto, ainda passam por garantir financiamento agrícola.
A inovação nas cadeias produtivas esteve entre os principais temas discutidos no Congresso da Abag. Malu Nachreiner, presidente da Bayer no Brasil, citou a importância da inovação utilizada a favor da sustentabilidade. Segundo a dirigente, só os produtos e as tecnologias não são suficientes para os desafios que se tem hoje, precisando apostar em programas de incentivo às práticas de menor impacto.
A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, levantou também a importância da rastreabilidade. A prática permite que todos os protocolos aplicados pelo setor sejam visíveis, conferindo transparência do processo produtivo aos olhos do consumidor.
O CEO da startup agrícola Varda, Davide Ceper, citou a dificuldade de agregar informações como um desafio ainda a ser vencido. A lacuna levou a empresa ao desenvolvimento de um mapeamento de dados com referência geoespacial em forma de identificadores de talhão para resolver o “buraco negro” de dados. O produto já foi lançado no Reino Unido e deve ser expandido para outros locais para promover a integração de dados do campo.
A tecnologia é uma realidade para o agro, e os dados, quando bem utilizados, são alavanca para o potencial produtivo. Mas, mais do que a tecnologia em si, o seu alcance é a grande questão a ser ainda destravada. Disponibilizar que ela chegue a regiões sem conectividade é o grande salto que falta, comentou o CEO do Grupo Sonda Brasil, Ricardo Scheffer.
Mercados
O futuro do agronegócio também passa pela origem dos recursos que o financiam. Vice-presidente de Produtos e Clientes da B3, Juca Andrade diz que a presença do agro entre as empresas listadas na bolsa ainda é pequena — são apenas 31 entre as mais de 400. Mas outros produtos de captação que passam pelo mercado de capitais estão mostrando a importância do investimento privado como financiador do setor produtivo. Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e os Fiagros, um dos mais promissores atualmente, são exemplos.
— Fora o crédito de carbono como instrumento negociável, que a bolsa vem trabalhando para desenvolver no país — destaca Andrade.
O dinamismo do mercado de seguros também se mostra inovador quando apoiado na tecnologia. O setor cresceu mais de 200% nos últimos cinco anos, com alta de 40% somente no último ano, segundo Pablo Ricoldy, diretor da BrasilSeg, empresa da BB Seguros, seguradora do Banco do Brasil.
Apesar dos números, é um segmento que ainda tem potencial para crescer, a exemplo de outros mercados fora do Brasil, já mais maduros. Embora os seguros deem tranquilidade ao produtor, apenas 12% das áreas são seguradas no Brasil.
Para Ricoldy, o desafio é saber usar o gerenciamento de dados a favor deste mercado. O diretor citou como exemplo os seguros paramétricos, que por meio de históricos de imagens permitem montar a base de seguros personalizados ao produtor.
*Bruna Oliveira viajou a convite da Abag