A safra farta de grãos colhida no Brasil neste ano ajudou a alimentar uma estatística positiva também nas vagas geradas pelo setor produtivo. Boletim sobre o Mercado de Trabalho no Agronegócio Brasileiro, elaborado por Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), mostra que 2023 teve o melhor primeiro trimestre do ano na série histórica iniciada em 2012. A população ocupada no segmento no período chegou a 28,1 milhões de pessoas, o que representou fatia de 27% do total da mão de obra no Brasil. Também foi o segundo maior contingente de trabalhadores para um trimestre, perdendo só para o segundo trimestre de 2019.
— O desempenho geral da população ocupada no agronegócio nesse primeiro trimestre de 2023 está diretamente relacionado à boa safra agrícola colhida neste ano. Isso faz com que a demanda por trabalhadores “dentro da porteira” seja maior. Mas não é só isso, a pesquisa mostrou que a demanda por atividades ligadas aos agrosserviços também cresceu de maneira robusta, impulsionada pela necessidade de um maior número de trabalhadores para estocar, armazenar, transportar, etc., essa grande produção agrícola — avalia Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA, sobre o resultado.
Os chamados agrosserviços tiveram uma alta de 6,7% no número de pessoas ocupadas, o que representa 616 mil trabalhadores a mais na comparação do primeiro trimestre deste ano com o do ano passado. O de insumos registrou crescimento de 9,5%, ou 24,84 mil postos. O segmento primário, onde ficam as contratações da agropecuária, registrou recuo de 5,2% em igual intervalo.
Chama a atenção ainda, no estudo, o dado referente ao perfil da mão de obra: o avanço no trimestre foi puxado por empregados, sobretudo com carteira, com maior nível de instrução e aumento da participação feminina.
— Essa mudança do perfil do trabalhador do agronegócio está associada ao aumento da tecnologia empregada no campo. Tecnologias como ampliação da área irrigada e número de tratores estão exigindo dos trabalhadores uma maior capacitação (acadêmica e técnica), inclusive demandando mais cursos técnicos para suprir essa demanda. Ou seja, essa mudança estrutural no perfil veio para ficar e, com isso, promove maiores salários e mais renda nas cidades – completa o coordenador do Núcleo Econômico da CNA.
Ele cita dados do Caged para referendar essa análise: em 2020 foram contratados 3.287 trabalhadores para mecanização agrícola. Em 2022, foram 16.174.