
Em recente discurso no interior da Paraíba, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se apresentou como um enviado divino para terminar com a seca. Diante de uma plateia de apoiadores, afirmou:
— Graças a Deus, descobri uma coisa. Deus deixou o sertão sem água porque Ele sabia que eu ia ser presidente da República e que eu ia trazer água para cá.
Não é novidade que Lula recorra a discursos de cunho messiânico para reforçar sua imagem pública. Com sua conhecida habilidade política, ele sabe que esse tipo de narrativa emociona as camadas mais humildes da população, especialmente no Nordeste, onde mantém uma base de apoio sólida. No entanto, é justamente aí que reside o problema: ao apostar no populismo, o petista escolhe, mais uma vez, cultivar seu carisma pessoal em vez de estruturar um projeto de país consistente, sustentável e duradouro — um plano que vá além de seu nome ou partido.
No campo oposto, a estratégia não é diferente. Como principal figura da direita, Jair Bolsonaro ergueu sua popularidade em cima da ideia de ser o único capaz de proteger o Brasil do "mal" — neste caso, representado pela esquerda e pelo comunismo. "Não vamos deixar que transformem o Brasil numa Venezuela" foi uma das frases mais ouvidas durante a campanha que garantiu sua vitória na eleição presidencial de 2018.
O populismo, seja à esquerda ou à direita, opera com a mesma lógica: simplifica questões complexas, cria inimigos fictícios e coloca o líder como única alternativa viável. Lula e Bolsonaro, cada um do seu jeito, alimentam esse modelo. O resultado é previsível: o país continua travado em questões fundamentais para a vida do cidadão comum, como saúde pública de qualidade, educação eficiente, infraestrutura moderna, segurança, geração de empregos e competitividade internacional.
A verdade é que o Brasil não precisa de salvadores da pátria. O que o país demanda com urgência é um estadista — alguém com visão de futuro, que coloque o bem coletivo acima de suas vaidades pessoais ou interesses partidários. Mergulhado em crises recorrentes, o Brasil não pode se dar ao luxo de continuar escolhendo governantes adeptos do culto à personalidade. Estadistas são raros, é verdade. Mas justamente por isso devemos procurá-los com ainda mais determinação. É hora de elevar o padrão. Chega de mitos ou enviados divinos.