Em dia de ataque russo no porto do Rio Danúbio, por onde passa parte da produção ucraniana as condições das lavouras americanas acabaram ficando em segundo plano. Mas o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) que acompanha o desenvolvimento da produção emitiu um alerta e pode trazer mais efeitos ao mercado nesta terça-feira (25).
O documento saiu depois que a Bolsa de Chicago, referência mundial para a cotação de grãos, havia fechado. Na cultura da soja, 54% das plantações estavam em condições boas ou excelentes, uma redução em relação ao dado anterior e a igual período do ano passado. Consultor em Agronegócios, Carlos Cogo acrescenta outro dado de alerta: o monitor americano da seca aponta 50% da soja com estresse hídrico e 55% do milho.
— Precisa realmente continuar chovendo — observa Cogo, lembrando que julho e agosto ainda apontam chuva em quantidade insuficiente.
O cenário não é de terra arrasada, mas é importante ter umidade porque as lavouras começam a entrar em fase importante da safra americana.
— A última semana não foi muito úmida nos EUA, e isso ajudou no movimento (do preço da soja). Essa semana também não deve ser. O mercado continua preocupado com isso — acrescenta Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras&Mercado.
Soma-se a isso uma área menor cultivada, e o resultado é uma possibilidade de revisão da produtividade da soja nos EUA no dado de agosto do USDA.
— As condições precisam melhorar bastante para o USDA não cortar produtividade (da soja). O mercado encontra sustentação em cima disso — avalia Roque.
Na segunda-feira (24), no entanto, foi a ação da Rússia no porto do Rio Danúbio que puxou o movimento de alta das commodities. No trigo, os contratos com vencimento em setembro fecharam com valorização de 8,6%. No milho, de 5,97% e na soja, de 1,62%.
— Dois terços do que a Ucrânia vinha exportando eram pelos portos de Mar Negro. Outro terço por rodovias e hidrovias, especialmente essa do Danúbio — explica Cogo.
O ataque aperta o cerco às vias de escoamento da Ucrânia — na semana passada, a Rússia não renovou o acordo para o chamado corredor de grãos no Mar Negro.