Os dados da projeção inicial da safra de inverno apresentados pela Emater refletem os efeitos do clima no Estado, em dois momentos diferentes. Sobre a colheita, estimada em um volume 55,5% maior, pesa a base de comparação: a produção do cereal em 2023 foi reduzida pelo excesso de chuva. Na área cultivada, que deve encolher 7,1%, traz o impacto da recente catástrofe climática.
Principal cultura da estação, o trigo tem perspectiva de recuo ainda maior, 12,8%, percentual que carrega, além dos impactos da tragédia registrada em maio, a frustração do ciclo passado e o mercado pouco atrativo.
Conforme o diretor técnico da Emater, Claudinei Baldissera, antes mesmo do evento, havia uma redução de área estimada, envolvendo outros fatores como preço, risco de produção e disponibilidade de sementes. A enxurrada, no entanto, acentuou o recuo.
Canola avança com força
As condições climáticas para o ciclo atual devem favorecer o desenvolvimento de todas as culturas de inverno, que podem superar 5,2 milhões de toneladas. A previsão é de um inverno dentro da normalidade. A produção de trigo está projetada em 4,07 milhões de toneladas, alta de 55,2%.
— Embora o risco climático tende a ser menor, há a questão do mercado, com preço baixo, e do seguro. E um fator de disponibilidade de boas sementes, o que traz um custo maior — pondera Baldissera.
Prognósticos apontam ainda ocorrência de La Niña, e a transição para o fenômeno tende a ser brusca, alerta o meteorologista da Secretaria da Agricultura e coordenador do Simagro, Flávio Varone. Condição que pode trazer geada tardia, exigindo cuidados dos agricultores. Também se espera redução no volume de chuva a partir de agosto e setembro.
Com avanço ano a ano, a canola deve praticamente dobrar a produção, e a área, crescer 75%. Segundo o diretor técnico da Emater, trata-se de produto promissor em rentabilidade e que pode estar entrando em áreas dedicadas ao trigo.
Na batida do tempo
A evolução do plantio do trigo no Rio Grande do Sul na atual safra tem relação direta com a chuva. Os 56% semeados do 1,31 milhão de hectares estimados representam uma diferença de seis pontos percentuais em relação a igual período de 2023 e de 11 na média dos últimos cinco anos.
— Essa diferença tem reflexo da chuva, embora ainda esteja tudo dentro do zoneamento (agrícola de risco climático) — pontua Baldissera.