Não deixa de ser aterrorizante ver os dez passageiros caminhando a passos miúdos na pista do aeroporto de Canela, pelas nove horas da manhã deste domingo (22). Todos de branco e preto. Todos desavisados da tragédia que se avizinhava nos minutos seguintes.
Não tiveram nem tempo de observar a beleza da serra gaúcha pela janela. Houve um mergulho fulminante e inexplicável da aeronave no meio de Gramado, entre a chuva e o nevoeiro, logo após se chocar com a chaminé de um prédio.
O empresário Luiz Galeazzi, sua mulher, as três filhas do casal, a sogra, a cunhada e o seu marido e seus dois filhos não tinham ideia de que viviam a plenitude do acaso e dos seus instantes derradeiros. Eles moravam em São Paulo e teriam ido até a cidade gaúcha para participar das festividades natalinas.
Ainda estão rindo. Ainda estão se protegendo da chuva. Ainda estão indecisos sobre onde vão almoçar. Carregam suas mochilas com roupas, laptops e carregadores de celular.
Era para ter sido uma manhã prosaica de pequenas definições, de sim ou não, sem despender grandes esforços. Mas a morte é implacável, a morte não respeita domingo ou Natal, muito menos as crianças a bordo.
A aeronave de pequeno porte com destino a Jundiaí (SP) caiu em Gramado às 9h15. O acidente aconteceu na principal via da cidade, a Avenida das Hortênsias, atingindo pousada, loja de móveis e casas.
O céu desabou para uma família inteira. Não há sobreviventes. Não há mais ninguém para acenar de volta.
A morte sequer dá desconto a dores ou traumas antigos. Em 2010, Luiz perdeu a mãe, Maria Leonor Salgueiro Galeazzi, justamente na queda de um avião bimotor, na região de Sorocaba, interior paulista.
Nunca saberemos quando será a última vez. Nunca saberemos se é um dia comum ou a nossa despedida. Estaremos andando em direção ao nosso desfecho, inconscientes da nossa mais completa fragilidade.
E é sempre assustador.