Depois de uma safra frustrada pelo excesso de chuva em decorrência do El Niño no ano passado, as condições climáticas devem favorecer o desenvolvimento das culturas de inverno este ano no Estado. A safra da estação pode superar 5,2 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul em 2024, uma recuperação de 55,5% sobre a produção do ciclo anterior.
O ponto de alerta, no entanto, se dá em área plantada, já contabilizando as perdas que os produtores rurais tiveram em suas terras como consequência da enchente que varreu parte importante da agropecuária gaúcha. O recuo projetado é de 7,1% nos plantios.
Conforme o diretor técnico da Emater, Claudinei Baldissera, antes mesmo do evento climático ocorrer já havia um recuo de área estimado, envolvendo outros fatores como preço, risco de produção e disponibilidade de sementes. A enxurrada, no entanto, acentuou o recuo.
No trigo, principal cultura da estação e que tem no Rio Grande do Sul a maior produção nacional, são esperadas 4 milhões de toneladas do cereal. A alta é de 55,2% em relação à safra do inverno passado, que foi bastante prejudicada pela chuva. Com a ajuda do clima este ano, a produtividade deve ser 77% superior. Já a área será 12,8% menor, como resposta também à migração dos agricultores para outras culturas da estação.
Com crescimento a cada ano, a canola anota avanços percentuais significativos. A produção deve praticamente dobrar em 2024, com alta de 99%. O dado abarca um aumento de 75% em área cultivada. Segundo Baldissera, trata-se de um produto promissor em termos de rentabilidade aos produtores e que pode estar ganhando áreas dedicadas ao trigo.
Na cevada, largamente aproveitada pela indústria cervejeira, a produção deve ser 41% maior este ano, também como um sinal de recuperação em relação à safra do ano passado. A área plantada, porém, é 15,4% menor no ciclo atual.
Prognósticos do clima
No que depender dos prognósticos traçados para o decorrer do trimestre até setembro, as condições climáticas trazem boas notícias para os produtores. A previsão é de um inverno dentro da normalidade, mantendo as características de baixas temperaturas esperadas para a época, favoráveis ao desenvolvimento pleno das culturas.
Já se tem notícias, no entanto, de nova ocorrência de La Niña, e a transição para o fenômeno tende a ser brusca, alerta o meteorologista da Secretaria Estadual de Agricultura e coordenador do Simagro, Flávio Varone. A condição pode trazer geada tardia, exigindo cuidados dos agricultores em relação aos danos nas lavouras. Também são esperadas reduções nos volumes de chuva a partir de agosto e setembro.
O enceramento do El Niño culminou na catástrofe climática entre os meses de abril e maio. Desde então, o produtor gaúcho observa o clima com ainda mais atenção. A chuva passou de 700 milímetros em algumas regiões em maio, superando a média de precipitação em até quatro vezes em algumas localidades. Somente a Fronteira Oeste escapou das grandes médias de chuva.
A safra em números
Estimativa inicial da Emater para a produção de inverno em 2024 (comparação com 2023)
Trigo
- Área: 1.312.288 hectares (-12,84%)
- Produção: 4.068.852 toneladas (+55,27%)
- Produtividade: 3.100 kg/ha (+77,05%)
Aveia branca
- Área: 365.590 hectares (+0,16%)
- Produção: 878.271 toneladas (+50,41%)
- Produtividade: 2.402 kg/ha (+48,38%)
Canola
- Área: 134.975 hectares (+74,35%)
- Produção: 226.557 toneladas (+99,08%)
- Produtividade: 1.679 kg/ha (+13,87%)
Cevada
- Área: 34.429 hectares (-15,40%)
- Produção: 111.707 toneladas (+41,18%)
- Produtividade: 3.255 kg/ha (+65,46%)
Safra total
- Área: 1.847.482 hectares (-7,11%)
- Produção: 5.285.387 toneladas (+55,57%)