Mais de 206 mil propriedades rurais tiveram danos provocados pela enchente entre abril e maio no Rio Grande do Sul. A maior catástrofe climática já vivenciada pelo Estado atingiu em cheio a agropecuária gaúcha, deixando perdas em infraestrutura para 19,1 mil famílias do meio rural e cerca de 200 agroindústrias.
Além das perdas em produção e estrutura física, 34.519 famílias ficaram sem água potável.
O compilado de danos foi publicado na segunda-feira (3), em relatório elaborado pela Emater junto aos produtores rurais. Transcorrido um mês da enchente, a dificuldade de acesso aos locais ainda impedia a coleta precisa das informações.
Para o diretor técnico da Emater, Claudinei Baldissera, os números atestam a expressividade do evento climático, sobretudo pelo impacto em diferentes regiões e culturas.
— O levantamento mostra a dimensão da calamidade sobre o meio rural, o meio ambiente, os sistemas de produção e sobre as pessoas que fazem a produção de alimentos. É um impacto que bate na sociedade à medida que todos os sistemas agroalimentares são afetados — diz.
Na produção de grãos, atingida pela água com a colheita de verão em pleno andamento, as perdas se referem às áreas que não puderam ser colhidas ou às que tiveram baixo rendimento devido às condições climáticas, como é o caso da soja, do milho e do feijão, entre outras culturas. Foram 48.674 produtores de grãos prejudicados, a maior parte de milho e soja.
Em termos de volume, a maior perda foi na soja. Foram 2,71 milhões de toneladas perdidas. A safra 2023/204 tinha estimativa de ser recorde no Estado, com projeção apontando para 22,24 milhões de toneladas colhidas. Descontadas as perdas e a área afetada pela chuva, a nova estimativa de produção é de 19,5 milhões de toneladas.
O volume, embora inferior ao esperado, é satisfatório se considerado o histórico de produção no Estado.
— Não atenua a situação do produtores atingidos, mas analisando o volume dentro de um todo, vai ficar dentro das boas safras — avalia Baldissera.
Nas culturas de inverno, os danos foram pontuais e nas áreas recém semeadas. Essas lavouras terão de ser replantadas.
Na pecuária, as perdas de animais afetaram 3.711 criadores gaúchos. O maior número de animais mortos foi de aves, totalizando 1.198.489 exemplares adultos. Também houve perdas de bovinos de corte e de leite, suínos, peixes e abelhas. Além das reduções nos rebanhos, o relatório considera um impacto direto na produção de leite e de carne nos próximos meses devido às perdas nas pastagens, que foram severamente prejudicadas.
Nos citros, a água que invadiu os pomares afetou a fase final de frutificação, prejudicando variedades que já estavam em colheita, como a bergamota. A produção das frutas na região dos Vales e a de banana nas encostas da Serra do Mar foram as culturas mais prejudicadas. O impacto atingiu 8.381 propriedades, segundo a Emater.
Já nas hortaliças, as maiores perdas foram nas produções de folhosas e leguminosas nas regiões Metropolitana, Serra e nos vales do Taquari e do Caí. As perdas nas produções já se refletem em menor oferta de produto disponível nas prateleiras dos supermercados, afetadas também pela dificuldade logística de escoar o que pôde ser colhido.
Secretário de Desenvolvimento Rural no RS, Ronaldo Santini lembra que o efeito da catástrofe é geral e setorial, ou seja, com impactos diretos em produção, mas também indiretos em uma série de outros segmento:
— (O levantamento) torna ainda mais transparente o que já imaginávamos. São muitas perdas em solo, silos, armazéns, aves... E essas perdas têm um impacto econômico grande ao RS. Certamente, o nosso custo de vida vai sofrer um impacto por conta disso.
Em termos financeiros, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) cita prejuízos de R$ 3,1 bilhões na agricultura e de R$ 272 milhões na pecuária. Os números são atualizados semanalmente pela CNM, à medida que os danos são mapeados.