A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Enquanto o mercado internacional cada vez mais recorre à produção avícola brasileira – e gaúcha, é a recuperação do mercado interno que ganha holofote entre os planos estratégicos da indústria de carne de frango e de ovos em 2024. Mais da metade (50,9%) da oferta da proteína no Estado é composta por produtos vindos de fora do Rio Grande do Sul, o que preocupa o setor em relação à competitividade da indústria gaúcha.
— Somos competitivos do outro lado do mar, mas não somos competitivos na porta das nossas empresas. Tem alguma coisa errada — questiona o presidente do conselho diretivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger.
Para o setor, o problema para a falta de protagonismo do frango com selo gaúcho no cardápio vem da questão fiscal e dos encargos para produzir. O tema foi discutido durante coletiva de apresentação dos dados do segmento, nesta quarta-feira (24), na sede da entidade avícola.
Comparado a Santa Catarina e Paraná, outros grandes produtores da proteína, o Rio Grande do Sul é o que apresenta o maior custo de produção para esta indústria, dificultando a competitividade gaúcha com os demais mercados. Parte do custo alto vem da oferta de grãos, já que os dois Estados têm produção maior de milho e de soja, utilizados na alimentação dos animais.
— Se vamos buscar milho no Paraná, tem todo o custo de frete que já encarece — cita Freiberger.
O desempenho do setor em 2024 vai depender de adequação do mercado interno, mas também de outros fatores como a safra de grãos e a reforma tributária. Na pauta local, entra em jogo a retirada de benefícios concedidos à indústria, encaminhada pelo Piratini para ampliar a arrecadação. A Asgav diz que o impacto da revisão ainda está em estudo, mas já adianta que, a depender do tamanho, implicará repasses de preços nas gôndolas.
As preocupações em relação ao desempenho têm o ano passado no retrovisor. Em 2023, a avicultura reduziu a produção no Rio Grande do Sul para 802 milhões de aves abatidas, uma queda de 5% em relação a marca de 2022. As adversidades climáticas em regiões extremamente relevantes para a atividade no Estado, como o Vale do Taquari, atingido por ciclone, e a dificuldade de empresas do setor, algumas em recuperação judicial, foram os principais motivos para a queda.
Não fossem esses episódios, a produção gaúcha estaria em compasso com o desempenho brasileiro, que foi de alta, avaliou o presidente executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos.
No semento de ovos, setor que cresceu 63% nos últimos dez anos no Estado, o aumento do consumo e a industrialização vêm colaborando para as altas ano a ano. As exportações de ovos no RS cresceram 126,2% em 2023 sobre 2022. A ampliação, diz Anderson Herbert, diretor da Naturovos e membro de conselho na Asgav, responde pela consolidação de novos clientes que buscam produtos de maior valor agregado, como os ovos em pó ou pasteurizados.