A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Tem cara de filé de peixe e gosto de salmão, mas foi "criado" em uma máquina 3D, a partir de vegetais. Essa é a inovação que acaba de sair do forno, ou melhor, dos laboratórios de pesquisa da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, do Distrito Federal. As estruturas comestíveis análogas a filés de peixe, sashimi, anéis de lula e caviar vieram como resposta à uma busca por novos meios de produção, uma tendência mundial em um planeta com população crescente.
Coordenador do estudo, Luciano Paulino da Silva diz que a ideia de criar alimentos em laboratório surgiu a partir de uma demanda recente de mercado:
— Há poucos substitutos para carnes de peixes e frutos do mar para a população vegana. Diferentemente de outros produtos plant based, como carnes de soja, hambúrgueres e nuggets, em que há mais opções.
Para criar essa ideia, o pesquisador e a sua equipe foram atrás, primeiro, de vegetais que tivessem propriedades nutricionais semelhantes às do peixe e de frutos do mar. E foi na farinha de pulses (sementes secas de leguminosas, neste caso, de soja, grão de bico e feijão) e em algas que encontraram o que precisavam — proteínas e lipídeos característicos desse tipo de alimento.
Com a matéria-prima selecionada, foi desenvolvida, então, uma tinta alimentícia para abastecer a bisnaga que vai acoplada à máquina tridimensional. Depois, um modelo de desenho do alimento a ser impresso foi inserido no computador. Com um botão, o alimento começou a sair do "forno". Ou melhor, a ser impresso, camada por camada, pela máquina 3D de alimentos.
— Foram usadas imagens de pescados de origem animal como inspiração para a construção de modelos tridimensionais que simulam as características de cortes de peixes — detalha o líder do projeto.
Agora, a pesquisa aguarda uma parceria com a iniciativa privada para realizar o que Silva chamou de "etapas finais do desenvolvimento" do projeto, que engloba análises sensoriais, testes de escala e de viabilidade econômica — o custo de se produzir esse tipo de alimento ainda é alto.
— Além de indústrias e restaurantes, por que não a máquina 3D de alimento ser também um eletrodoméstico? Em que eu o programo para, quando chegar em casa depois do trabalho, ter o alimento fresco para jantar, por exemplo — projeta Silva.
O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Nanobiotecnologia, no âmbito do projeto 3DPulSeaFood, cofinanciado pelo The Good Food Institute e pela Embrapa.
Onde já existe
A indústria já usa a impressão 3D para obter, por exemplo, snacks e hambúrgueres com formatos e texturas pré-definidos, o que melhora o sabor dos produtos.
Há empresas privadas começando a utilizar impressoras 3D para criar "carne" cultivada, aquela que é produzida a partir de células animais cultivadas em laboratório. A impressão 3D é utilizada para criar a estrutura da carne, enriquecida com proteínas e gorduras.