A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Compensação na balança. Esse foi o desempenho das exportações do agronegócio gaúcho no terceiro trimestre do ano. O resultado duplo, de queda no volume embarcado, mas de expressiva receita nominal, ainda é reflexo da forte estiagem que devastou a safra de grãos no último verão e da alta de preços, que influencia a cadeia como um todo.
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (10) pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG).
Entre julho e setembro, os embarques do agronegócio totalizaram US$ 4,5 bilhões. A cifra representa recuo de 7,1% em relação ao mesmo período do ano passado, mas, ainda assim, merece destaque. Em termos nominais, foi o terceiro maior resultado da série histórica, compensando parte das perdas diante do menor volume exportado.
No acumulado do ano, as vendas do agro gaúcho totalizaram US$ 11,6 bilhões. Os nove primeiros meses do ano também foram marcados pela redução no volume embarcado (-19,3%) e pela alta nos preços médios (+24,0%).
— São dois resultados. Um era esperado, que é a queda no principal período em que a soja desembarca, devido à estiagem. Porém, no acumulado do ano, é surpreendente porque mostra uma estabilidade. Essa surpresa se dá devido ao primeiro trimestre, que foi muito bom pela soja estocada e pelo trigo, além de outros importante setores tendo exportações muito fortes — analisa Sérgio Leusin Júnior, economista e pesquisador do DEE.
A menor quantidade de grãos disponível devido à safra frustrada derrubou os estoques no terceiro trimestre. O volume total de produtos embarcados ao Exterior caiu 30,5% no período, afetado pelo complexo da soja. A venda de grãos reduziu em 40,8%, totalizando US$ 1,4 bilhão.
A salvação da carga veio de outros setores que registraram números positivos, como a venda de carnes, de produtos do fumo, dos cereais e das máquinas agrícolas e implementos.
A venda de carnes, aliás, atingiu até setembro o melhor acumulado de toda a série, de US$ 2,0 bilhões (+14,4%), puxada pelas vendas de carnes de frango (+30,5%) e de carnes bovinas (+46,2%). A explicação vem do cenário externo:
— Tem um fator internacional da gripe aviária na União Europeia, que embora não seja um destino tradicional das nossas exportações, mexe com o mercado. Foi um problema que abalou o mercado internacional e favoreceu o Rio Grande do Sul. Na carne bovina, a China continua demandando, mas é um ponto aberto que não se sabe até quando vai — diz Leusin.
Grande aposta do inverno para compensar as perdas do verão, o comércio do trigo também cresceu expressivamente (+482,0%) no acumulado do ano, somando US$ 736,8 milhões. A venda do cereal ganhou impulso pelo contexto internacional. O conflito entre Rússia e Ucrânia, grande produtora global do cereal, refletiu em alta tanto na quantidade embarcada pelo Rio Grande do Sul quanto nos preços médios.
Entre os principais destinos da produção agropecuária gaúcha, a China mantém a liderança, com 25,7% do total. Em seguida, vem União Europeia (15,8%), dos Estados Unidos (5,2%), da Índia (4,1%) e do Irã (3,7%).