O cultivo de trigo no Rio Grande do Sul vive neste momento uma nova fase de expansão, como mostram os dados do primeiro levantamento da safra de inverno da Emater, divulgado nesta terça-feira (08). O crescimento de 15,04% da área, que deve chegar a 1,41 milhão de hectares neste inverno, com perspectiva de novo recorde de produção, surge de uma combinação de fatores que vai além da conjuntura global.
— Vejo isso como algo irreversível. O produtor está se especializando também nas culturas de inverno — afirmou Alencar Rugeri, diretor-técnico da Emater, ao apresentar os números.
Se os efeitos da guerra Rússsia-Ucrânia, com a valorização das cotações globais, e a frustração da safra de verão em razão da estiagem entram como estímulos momentâneos, outros itens se consolidam como de longo prazo. Do ponto de vista técnico, agricultor que hoje se dedica a cultivar o cereal de inverno tem uma estrutura muito diferente daquela vivida na década de 70. Há avanço de tecnologia, genética e um sistema de produção que ajuda a melhorar a eficiência da lavoura que virá na sequência.
— Esse conjunto vai diminuindo o custo — completa Rugeri.
Mas existem outros "empurrões" que levam a essa projeção de continuidade dessa nova era de expansão. É o caso do programa Duas Safras, que reúne esforço coletivo na busca por um melhor aproveitamento da área de inverno com o benefício de trazer novas possibilidades de alimentação animal. A crise e os altos preços do milho fizeram com que as indústrias de proteína animal (aves e suínos) olhassem para alternativas vindas da estação do frio. Há também outros usos possíveis como, por exemplo, para a produção de etanol.
Para completar, a conquista de mercados novos para a exportação é outro indutor de aposta na continuidade do trigo. Tarcísio Minetto, coordenador da Câmara Setorial do Trigo da Secretaria da Agricultura, pontua que o RS terá um recorde de embarques do produto (com a colheita farta do ano passado): serão 2,9 milhões de toneladas.