A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Mesmo depois do cenário de destruição deixado pela enchente de maio nos campos gaúchos, é a estiagem que segue como o principal gargalo para o agronegócio no Estado. A falta de chuva implicou em uma queda maior nos números do setor produtivo do que durante a enchente, seja no volume colhido, seja no Produto Interno Bruto (PIB). Foi o que destacou o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antonio da Luz, durante apresentação dos dados de 2024 e das perspectivas para 2025 nesta segunda-feira (16).
Na safra 2023/2024, o Rio Grande do Sul registrou um aumento de 30,2% na produção de grãos, mesmo com uma redução de 2,7% da área colhida por causa da cheia, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inundação chegou no Estado no final da colheita da safra de verão.
— Nem a enchente conseguiu ser pior do que em 2023. A falta de chuva é muito pior do que excesso de chuva, nós vemos isso ano a ano — resume Luz, observando os números.
No PIB, o movimento é semelhante. O indicador brasileiro cresce mais do que o gaúcho nos últimos anos, e a diferença entre os dois aumenta em anos de estiagem. Em 2023, o PIB brasileiro teve um crescimento de 2,9% em relação a 2022, conforme o IBGE. Já o gaúcho, em 2023, chegou a 1,7%. Em 2022, no Brasil, o avanço foi de 3%, enquanto no RS houve queda de 5,7%.
— As estiagens estão nos empobrecendo — salienta o economista.
Luz também chama atenção para a falta de recuperação dessa diferença e a dificuldade de se alcançar o que foi perdido, porque a base se enfraqueceu. Diante desse cenário e reconhecendo os efeitos das mudanças climáticas, dirigentes da Farsul na ocasião reforçaram a necessidade de se avançar em áreas irrigadas no Estado.
— As mudanças climáticas estão aí e ninguém melhor do que o RS para provar isso. Mas os países ricos continuam poluindo em quantidades industriais — pondera o especialista.
Sobre o assunto, o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, citou o que chamou de "sucesso das lavouras orizícolas", que são 100% irrigadas.
— Em anos passados, não precisava fazer toda essa burocracia. É o que nós queremos, uma volta ao passado, para que tenhamos regularidade de safra — reforça Pereira, referindo-se aos licenciamentos ambientais.
Atualmente, apenas 3,2% da área plantada com soja no Estado tem tecnologia de irrigação, conforme a Radiografia Agropecuária 2024, divulgada pela Secretaria Estadual da Agricultura. De 2022/2023 para 2023/2024, o avanço foi de apenas 187,4 mil hectares para 214 mil hectares. No milho, a porcentagem é um pouco maior, de 15%. Avanço de 113,5 mil hectares para 121,8 mil hectares.