
Criado com o objetivo de trazer maior clareza para resultados colhidos em campo, o Rally da Safra, promovido pela Agroconsult, chega à 23ª edição. No retrato da produção de soja que acaba de ser apresentado pelos técnicos, após percorrer 13 Estados e o Distrito Federal, o que se vê é um ciclo de novo recorde no país. E um ponto fora dessa curva de crescimento no Rio Grande do Sul, onde os efeitos da estiagem e da onda de calor se refletem nos números. Em entrevista à coluna, o coordenador técnico Valmir Assarice falou sobre os dados apontados. Confira trechos.
Por que se decidiu fazer o Rally da Safra?
O Rally veio no início dos anos 2000, quando havia uma disparidade muito grande dos números. Foi criado para uma clareza maior da produtividade brasileira, trazendo os reais números de produção para o mercado. Fazemos um levantamento, percorrendo os principais Estados produtores, para trazer esse número com acurácia maior para o mercado e para o produtor tomar a melhor decisão diante das estatísticas.
Pelos dados, o RS teve uma redução expressiva, de 5 milhões de toneladas a menos do que o previsto em janeiro...
O grande divisor de águas nesta safra foi, mais uma vez, o clima. Demos a largada (no rally) no dia 10 de janeiro, nas variedades mais precoces do Mato Grosso e do Paraná, e fomos percorrendo os outros Estados. Ainda tem equipe em campo, pegando os últimos levantamentos, fazendo as últimas medições, mas os números apurados são de uma produção recorde de 172 milhões de toneladas no Brasil. O Rio Grande do Sul foi o mais foi afetado pela falta de chuva, perdeu mais de 5 milhões de toneladas, mas o Mato Grosso, por outro lado, foi muito beneficiado pelas chuvas. Só Mato Grosso aumentou em mais de 3 milhões de toneladas a estimativa em relação a janeiro. Entre os balanços positivos e negativos, saímos com um saldo de 300 mil toneladas, mas muita coisa aconteceu durante esses três meses.
A previsão uma colheita, na média, de 37,5 sacas por hectare no RS e de 60 sacas por hectare no Brasil?
A redução (do RS) é muito forte, quando o Estado planta com potencial acima, próximo de 60 sacas, então a gente está falando em perdas de 40%, 50%, em algumas regiões, até mais do que isso. E, dentro do Rio Grande do Sul, neste ano, a chuva foi muito irregular. Até meados de dezembro, veio em um clima muito bom, mas a chuva do final do ano não aconteceu, o mês de janeiro praticamente não choveu e as altas temperaturas provocaram grandes perdas nas lavouras. Começou na região das Missões, no sul do Estado, e foi avançando, na Região Central, Planalto, Serra, atingindo praticamente todo o Estado. A média estimamos em 37,5 sacas por hectare, mas tem produtores com uma situação muito pior, e outros, um pouquinho melhor.
Quando se olha para o Rio Grande do Sul, o que afetou mais a lavoura de soja foi a falta de chuva, o excesso de calor ou ambos?
Na nossa avaliação, foi a combinação dos dois fatores. Em alguns lugares, a chuva faltou. Em outros, a alta temperatura aliada com a chuva foi o principal fator. A combinação é o que trouxe perdas. O Estado teve uma boa implantação, as plantas nasceram bem, e os problemas foram surgindo ao longo do desenvolvimento. Aí a gente viu altas temperaturas fazendo abortamento de flores, de vagens e a falta de umidade, trazendo estresse para a planta também, ocasionando esses abortamentos. Quando vai para a fase final das lavouras, avaliando a planta, observa-se que teve menos grãos por hectare, por planta e um peso menor. Ou seja, o estresse veio dessa parte do desenvolvimento, a partir do reprodutivo.
Por outro lado, o Mato Grosso, maior produtor nacional, aparece com novo recorde...
Diferentemente do ano passado, neste, as lavouras precoces foram as que tiveram o melhor desempenho. Quando o Rally passou, em janeiro, já se visualizava um recorde para o Mato Groso. Diante da quantidade de chuvas em janeiro e fevereiro, o Estado perdeu um pouco, mas a perda por excesso é muito menos drástica do que por falta de chuva. Além do Mato Grosso bater o recorde de produtividade, nesta safra, bateu outro recorde: pela primeira vez, passou a barreira dos 50 milhões de toneladas de produção. Se compararmos com o Rio Grande do Sul, neste ano, são mais de três vezes a produção do Estado.