Encerrada a safra de verão, marcada pela estiagem que arrasou as lavouras gaúchas, com perdas históricas, as expectativas dos produtores se voltam para a safra de inverno, pela oportunidade de atenuar os prejuízos. A estimativa é de que a produção de trigo, principal cultura da estação, seja a maior da história — de 3,9 milhões de toneladas —, superando o recorde do ano passado.
A área plantada do cereal deve somar 1.413.763 hectares, a maior desde 1980, ou seja, em 42 anos. O incremento de área é de 15,04% em relação à safra passada.
A produção do trigo no Estado fica concentrada no norte, principalmente nas regiões de Santa Rosa e Ijuí.
No ano passado, a produção do cereal já havia sido recorde, totalizando 3,5 milhões de toneladas. A terceira maior safra foi a de 2013, com 3,3 milhões de toneladas.
– É a primeira opção que o nosso produtor tem de recuperar as perdas. Temos uma questão de custos e de crédito, aumentando a vulnerabilidade, então exige bastante da gestão dos agricultores –observou o diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri, ao apresentar os prognósticos iniciais de colheita.
Conforme o levantamento da Emater, a produção total de grãos de inverno deve somar 5 milhões de toneladas, aumento de 11,9% em relação ao ano passado. As estimativas para a safra foram apresentadas nesta terça-feira (7), na sede da entidade.
Na produção de canola, o aumento estimado é de 66,7%, com colheita de 91,3 mil toneladas. A área também deve ter crescimento, de 27,4%, totalizando 48,4 mil hectares. Já para a cevada, a estimativa aponta para redução de 2,07% na produção (108,6 mil toneladas) e estabilidade em termos de área, com alta pequena de 0,84% em relação ao ciclo passado.
A projeção de inverno ainda inclui a aveia branca, com aumento de 14,2% em área (392,5 mil hectares) e 7,49% em produção (870,2 mil toneladas).
Uma conjuntura favorável de preços das commodities e os prejuízos contabilizados pelos agricultores no verão estão entre os motivos que incentivam a produção este ano.
Na avaliação de Rugeri, o crescimento de área, especialmente no trigo, é “irreversível” porque o produtor gaúcho, que está capitalizado, vem se especializando nas culturas de inverno. O cenário, cita o diretor-técnico, é de oportunidade:
– Quando você tem oportunidade, você permanece nela porque se torna especialista em produção. O produtor já vem com a tecnologia que está sendo gerada e as empresas têm desenvolvido genética que possibilita altos rendimentos. O produtor, com certeza, não volta a diminuir muito a área.
Além disso, as exportações são oportunidade de mercado diante do conflito entre Rússia e Ucrânia, que limita atualmente a oferta mundial do cereal. Existe, portanto, uma condição diferenciada em relação a outros anos, de avanço tecnológico e de bons preços no mercado internacional, acrescenta Tarcisio Minetto, coordenador da Câmara Setorial do Trigo da Secretaria da Agricultura.
Fora as exportações, os produtores de trigo ainda têm como opção de mercado a alimentação animal, em substituição ao milho, e a indústria de panificação, já que o Brasil precisa importar parte da matéria-prima que utiliza em suas fábricas de pães, massas e bolachas.
A safra em números
Estimativa inicial da Emater para a produção de inverno em 2022 (comparação com 2021)
Trigo
- Área: 1.413.763 ha (+15,04%)
- Produção: 3.990.227 toneladas (+12,53%)
- Produtividade: 2.822 kg/ha (-2,17)
Aveia
- Área 392.507 ha (+14,26%);
- Produção 870.240 t (+7,49%)
- Produtividade 2.217 kg/ha (-5,93%)
Canola
- Área 48.457 ha (+27,42%)
- Produção 91.346 t (+66,79%)
- Produtividade 1.885 kg/ha (30,28%)
Cevada
- Área 36.727 ha (+0,84%)
- Produção 108.638 t (-2,07%)
- Produtividade 2.958 kg/ha (-2,89%)
Verão de perdas históricas
Praticamente encerrada no Estado, a safra de verão se despede com a lembrança de uma das mais severas estiagens já enfrentadas pelos produtores. Restando cerca de 3% de soja ainda a ser colhida, os prognósticos de queda de produção até aqui se confirmam, indicando quebra de safra de 41%.
– Infelizmente, o cenário se consolida em cima da projeção de perda que fizemos – diz o diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri.
A tentativa de salvar a lavoura veio com os plantios tardios. Na divisa entre Não-Me-Toque e Lagoa Vermelha, o produtor Vilson Von Fruhauf se prepara para colher na próxima semana os últimos grãos de soja da temporada, depois de ter perdido grande parte do que foi semeado na primeira janela de plantio. No milho, a perda foi total na primeira tentativa.
– Foi um plantio bastante tumultuado e extenso, com problemas desde o início. O que estamos colhendo agora vai dar 30% de uma soja normal, mas o grão está vindo bem. Foi o último tiro do cartucho. Arriscamos, vai produzir pouco, mas é bem-vindo – conta o agricultor.
Tradicionais plantadores também de culturas de inverno, o foco da propriedade agora passa a ser a nova estação para atenuar os prejuízos. O plantio do trigo está previsto para iniciar na semana que vem, com 140 hectares dedicados à cultura. Enquanto isso, a aveia e a ervilhaca já estão no solo.
– Vamos manter o pacote tecnológico. Em fertilizantes talvez façamos uma condição de lavoura mais equilibrada, mas o investimento será o mesmo dentro da nossa capacidade. Se frustrar, será pelo clima – diz Fruhauf.