Privatizações em setores sem concorrência, ainda mais quando fornecem serviços essenciais, precisam ter amarras maiores para sustentar o atendimento ao consumidor. Que sejam cláusulas no contrato além das regras tradicionais do setor. O que a CEEE Equatorial está fazendo com os clientes não é o que se anunciou que ocorreria quando a estatal foi vendida.
A coluna sempre alerta para que não se tenha expectativa com redução de tarifas quando se faz privatização. Ao contrário, as empresas costumam chegar querendo - ou prometendo - investimentos, que precisam que o dinheiro saia de algum lugar. Porém, a grande promessa é de eficiência e melhor qualidade dos serviços. Não é o que está se vendo com usuários sem luz desde domingo e sem previsão de retorno, segundo o porta-voz da empresa admitiu no Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha.
O superintendente técnico Julio Hofer chegou a dizer que tinha mais equipes. Porém, um programa de demissão voluntária para reduzir custo e altos salários teve adesão de 46% dos funcionários, que se desligaram da empresa até janeiro. Enquanto isso, foi há pouco tempo que a companhia começou a contratar eletricistas por meio de terceirizadas. Questionado sobre isso, ele disse que os novos profissionais ainda estão em treinamento. Mas é um serviço essencial, que só ela pode oferecer a um grande número de gaúchos, não poderia ficar esse vácuo entre troca de equipe. O risco da atividade econômica precisa entrar no planejamento da empresa. E no caso de energia, temporais e muitas árvores, como cita o executivo, fazem parte deste risco.
Ainda falta transparência. O atendimento aos clientes está precário até mesmo para informações. O serviço de torpedo mal funciona após uma sucessão de previsões de restabelecimento que não se cumpriram. E como é um monopólio de fornecimento de energia, o cliente não pode nem dizer: "cancela minha conta aí que vou para o concorrente."
Falta de transparência ocorreu também no ano passado, quando do reajuste anual da CEEE Equatorial. O aumento aplicado em novembro beirou os 15%, sendo que um mês antes a companhia tinha falado em audiência pública que ficaria pouco abaixo de 10%. O reajuste não ficou fora da curva considerando as demais distribuidoras que tiveram aumento naquele período, mas não há como errar uma previsão desta forma tão pouco tempo antes. Isso não ficou explicado. A Equatorial comprou a CEEE há pouco, mas está no segmento já há bastante tempo.
Recentemente, leitores da coluna e empresas de equipamentos de geração solar estavam com dificuldades de marcar vistoria e trocar o medidor para começar a enviar energia para a rede elétrica. Muitos estavam pagando já o financiamento da compra, sem conseguir iniciar o abatimento na conta de luz. Encaminharam à coluna os e-mails de resposta da própria CEEE Equatorial dizendo que o equipamento estava em falta. Procurada, porém, a equipe da empresa dizia à coluna que estava tudo normalizado, apesar dos e-mails de resposta a clientes.
Em geral, a iniciativa privada é, sim, mais eficiente ao administrar recursos e responder ao mercado. Porém, quando se trata de um problema, estatais tendem a se pronunciar com muito mais facilidade e até mais clareza do que empresas privadas. Ainda mais se elas têm o monopólio do setor, sem temer a concorrência.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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