Existe, na Amazônia, um rio chamado Roosevelt. Tem quase 800 quilômetros de extensão, rasga os estados do Mato Grosso, do Amazonas e de Rondônia, no lado oeste do Brasil, perto da Bolívia. Esse rio se chama Roosevelt porque foi exatamente ele, o ex-presidente dos Estados Unidos, o primeiro a explorá-lo, junto com o extraordinário marechal Cândido Rondon, que, como você sabe, é brasileiro da gema e da clara.
Rondon foi um herói. Merece que um Estado inteiro, Rondônia, o homenageie. Suas aventuras se equiparam às dos mais famosos exploradores do planeta, como David Livingstone, Richard Burton e Roald Amundsen. Foi um pacifista convicto. Seu lema era: “Morrer, se preciso. Matar, nunca”. Amava os índios. Por inspiração dele, Nilo Peçanha, o primeiro e até agora único presidente negro do Brasil, criou o Serviço de Proteção ao Índio.
Já o companheiro dele de expedição, Roosevelt, era o Theodore, não o Franklin Delano. Theodore foi presidente na primeira década do século 20. Era naturalista, gostava de fazer safáris e caçadas. Uma vez, quando participava de uma caçada a ursos nos Estados Unidos, aconteceu um fato que o tornou ainda mais famoso. Seus companheiros conseguiram prender um urso numa armadilha e o chamaram para que desse o tiro fatal no bicho. Theodore se recusou a fazer isso, alegou que era antidesportivo. No dia seguinte, os jornais contaram a história e um deles publicou uma charge em que o presidente aparecia se negando a abater um ursinho pequeninho e fofo. O título da charge era Teddy Bear. Teddy, o apelido de Theodore, e “bear”, que significa urso. É por isso que, até hoje, os ursinhos de pelúcia, nos Estados Unidos, não são ursinhos de pelúcia; são Teddy Bears.
Teddy veio ao Brasil em busca de emoções fortes. Havia deixado a presidência dos Estados Unidos e se sentia enfarado. Quando chegou ao país, conheceu Rondon, que estava prestes a sair numa expedição para mapear um rio desconhecido, que, por ser desconhecido, tinha sido nomeado como “Rio da Dúvida”. Roosevelt pediu para ir junto, Rondon topou e lá se foram os dois para empreender uma peripécia formidável, que transformaria o misterioso Rio da Dúvida no Rio Roosevelt.
Essa história é contada por um pequeno seriado de quatro episódios intitulado O Hóspede Americano. Está na HBO. Mas o melhor é ler o livro no qual o seriado se baseia, O Rio da Dúvida, da jornalista americana Candice Millard. Essa moça, Candice, é dona de um texto que o velho Tatata Pimentel qualificaria de pri-mo-ro-so. Suas descrições da selva amazônica são as mais vívidas com que deparei. Ela transforma a história no que ela realmente é: um épico. Há de um tudo nessa trama: desespero, roubo, morte, covardia e heroísmo.
Vou fazer um favor a você, sortudo leitor: vou indicar a leitura deste belo livro para o fim de 2021. Leia-o, se encante e você verá que suportar um ano e meio de peste nem é tão difícil assim.