Uma vez, o grande Oswaldo Rolla, o “Foguinho”, me disse sobre o time que montou no Grêmio nos anos 50:
– Se quisesse, eu podia arriscar, porque tinha aquele elefante na zaga.
O elefante era Aírton Ferreira da Silva, considerado, por quem o viu jogar, o melhor zagueiro do Rio Grande do Sul em todos os tempos. O Professor Ruy, certo dia, garantiu-me que ele era o melhor da história do futebol brasileiro.
O Grêmio dos últimos anos não tinha um elefante na zaga; tinha dois: Kannemann e Geromel. Com essa dupla atrás, o Grêmio podia ser ousado na frente, podia atuar com dois volantes mais técnicos do que marcadores, como Arthur e Maicon, podia se concentrar em rodar a bola até encontrar uma fresta na defesa adversária.
Kannemann e Geromel eram os fiadores do bom futebol do Grêmio. Tendo um goleiro confiável atrás deles e um esquema em que todos participassem da perseguição à bola, tornavam o time quase impermeável.
Acontece que mesmo os elefantes envelhecem. Foi o que aconteceu com Kannemann e Geromel. Com a idade, as lesões de ambos passaram a se multiplicar e eles praticamente não conseguem jogar.
Se Kannemann e Geromel estivessem jogando, a situação do Grêmio seria outra no Brasileirão. Mas essa condicional, o “se”, serve apenas para especulação. O que conta, ao fim e ao cabo, é a realidade, e na realidade do Grêmio não estão Kannemann e Geromel.
Sem eles, qual foi a melhor forma que o Grêmio encontrou para jogar neste malfadado ano da peste? A resposta é fácil: o esquema com três volantes. É o sistema que deixa a defesa mais protegida, que preenche melhor o meio-campo e que anula o adversário com maior solidez. Luiz Felipe descobriu esse caminho, mas, por algum motivo, de vez em quando teima em abandoná-lo para tomar atalhos perigosos.
O sistema com três volantes tem de ser a base do time do Grêmio. Há seis deles à disposição na Arena, talvez mais. Se Luiz Felipe não quer escolher os três melhores, que escolha os piores, mas jogue com o tripé dando sustentação ao time. Em casa contra os fracos, fora contra os fortes, não importa: o tripé tem de ser a espinha dorsal da equipe.
Com três volantes, o Grêmio não vencerá sempre, mas também não perderá sempre. Ao contrário: o time irá se acostumando com esse jeito de jogar e logo encontrará suas próprias alternativas. Em breve, estará jogando com a naturalidade que lhe faltou no domingo passado. Na falta de um elefante dentro da grande área, que se coloque três buldogues na frente dela.