Um dos eventos de moda mais pertinentes do país, o Brasil Eco Fashion Week (BEFW), dedicado à indústria de moda sustentável, reuniu grifes e criadores brasileiros em desfiles e performances na última semana.
Pela primeira vez, as apresentações estiveram aliadas à semana de moda de Milão. Em formato híbrido - metade digital, metade presencial, devido às restrições impostas pela pandemia -, a quinta edição do BEFW teve atrações presenciais durante o Fashion Vibes, um dos muitos eventos do line-up italiano.
A moda gaúcha, reconhecida pelo pioneirismo nos processos sustentáveis, marcou uma bela presença no BEFW. Nas passarelas italianas, o designer Rico Bracco mostrou a coleção Transmutare e as grifes Nuz, Wendyel Borin e Contextura participaram em formato digital, apresentando fashion films no canal BEFW do Youtube. A grife Dona Rufina também integrou o evento em um showroom. A seguir, saiba mais sobre as novidades de cada marca:
Rico Bracco
Rico Bracco é uma marca independente de Caxias do Sul que se dedica à criação de peças de alfaiataria em linho, seguindo processos sustentáveis e transparentes. A coleção Transmutare, apresentada no dia 25 de setembro, no Orto Botânico di Berra, em Milão, vem inspirada pela flor do tabaco, seguindo a essência da marca de resgatar a identidade regional e revitalizar técnicas artesanais tidas como patrimônio imaterial da cultura da imigração italiana, a mais representativa da Serra, ponto de origem do selo.
Foram 15 looks entre vestidos, calças, camisas e saias. A flor de tabaco surgiu esboçada em técnicas manuais, como a pintura de agulha em fio de seda e o bordado Rechillieu, ambos aplicados sobre o linho tingido naturalmente com cascas de cebola roxa e de eucalipto. Silhuetas de volumes sinuosos e franzidos contrastam com a alfaiataria, em tons de branco, cru, azul fresco, castanhos e cinzas, em uma coleção fresca e elegante, reforçando o talento deste jovem designer gaúcho.
Contextura
A marca nasceu em 2010 como uma empresa de investigação têxtil, na qual as duas sócias e designers, Evelise e Anne Anicet Rüthschilling, mãe e filha, trabalham entre a arte e a moda pelo viés da sustentabilidade. A Contextura tem como diferencial a inovação em texturas têxteis originadas em processos artísticos de criação, conhecimento científico e design circular.
Nesta coleção, vem inspirada em dois ícones da brasilidade, a planta costela-de-adão e o guaraná, somando as propriedades de bem-estar, cores e formas. As roupas, bolsas e acessórios que celebram o conforto em um estilo casual, propõem novas relações do corpo com o produto, conferindo uma elegância contemporânea, sempre atrelada à liberdade de movimentos.
Wendyel Borin
Uma marca de upcycle art que tem na renovação de têxteis um dos pilares do seu estilo, desconstruindo e reconstruindo peças e se alinhando ao hoje de uma forma criativa, transparente e ética, a Wendyel Borin apresentou a coleção Processos Revisitados como um desfile digital no BEFW.
O fashion film foca nesse processo que permite que peças que já existem contem novas histórias em outras formas. Todos os itens da coleção Processos Revisitados celebram o conceito do selo e são elaborados pela técnica de reconstrução com base na alfaiataria e na utilização de excedentes e têxteis. O desenvolvimento, totalmente manual, é gerado em meio ao caos criativo concebido pelo reaproveitamento, uma curadoria de fragmentos que ganham novos encaixes.
Como resultado, as peças exibem formas que diferem das estruturas convencionais a que estamos imediatamente acostumados, recriando roupas que já existiram, reativando valor e confirmando um novo futuro possível para a moda. A marca também dispensa a ideia de temporada, criando coleções atemporais.
Nuz
A Nuz Demi Couture, da estilista Duda Cambeses, traz peças múltiplas que podem ser usadas de várias formas, algo que tem tudo a ver com o movimento crescente (e coerente) de se consumir menos e com mais qualidade. Uma peça da Nuz nos desafia a experimentar novas formas de vestir pelo viés da elegância, perfeita para quem busca consumir menos e melhor, com idêntica versatilidade.
Nesta edição do BEFW, a Nuz traz um filme que explora lindamente esta forma de uso múltiplo de uma mesma peça que é essência da grife. Como uma tela em branco para a coautoria, um chamado para a intervenção de quem a veste, a peça em viscose de reflorestamento surge em uma passarela urbana, acompanhando o corpo e seus movimentos. Uma peça que salva em inúmeras situações, abraçando a cada vez mais necessária e desejada adaptação.
Dona Rufina
A Dona Rufina nasceu da paixão de designer Luciana Bulcão por uma matéria-prima muito tradicional no sul do país, mas pouco explorada criativamente: a lã de ovelha. Ao pesquisar sobre a lã para o projeto de mestrado, Lu identificou que muito da fibra natural estava sendo jogada fora. Resgatando a técnica de feltragem manual herdada por gerações, a Dona Rufina traz um olhar singular sobre a cultura gaúcha, produzindo peças criativas, elegantes, atemporais e trabalhando com mulheres artesãs de várias cidades do Estado. No BEFW, a Dona Rufina participou de um showroom em Milão.
Os modelos apresentados em Milão trazem os elementos que marcam o trabalho da Dona Rufina, com destaque para as bolsas e peças de roupas na lã feltrada, ambas de visual singular e impactante. A marca também trabalha com couro, outra matéria-prima característica do Sul.
“Deslocar o território do pampa gaúcho com os nossos produtos é algo que não temos como mensurar o valor, porque aqui, quando falamos em território, estamos nos referindo não só ao local físico, mas, sim, a todo o universo social, cultural e econômico que fazem parte deste evento, é levar um pouco da nossa brasilidade sulina para o mundo”, celebra Lu.
Vale lembrar que Dona Rufina é a primeira marca brasileira certificada pelo selo sustentável Friend Of The Heart, que também foi um dos apoiadores do evento em Milão e é o patrocinador oficial do selo gaúcho na cidade italiana.