Angela Merkel, essa líder histórica que está deixando o poder na Alemanha e, com sua saída, abalando toda a Europa, o mais espetacular a respeito dela é que ela não é nada espetacular.
Angela Merkel é uma senhora meio encurvada, de olhar triste, que nunca bate no peito para dizer que é a melhor, que jamais é grandiloquente, que em tudo é uma pessoa comum. Podia ser a tia distante de qualquer um de nós, ou a diretora do colégio. Lembra-me, a propósito, dona Eunice, a diretora do Costinha, nos fundos do Parque Minuano, onde fiz o primeiro grau.
Angela Merkel não tem graça nenhuma e essa é sua maior graça. Porque ela é a antipopulista, ela é a antidemagoga. Angela Merkel nunca dirá algo para agradar ao ouvinte. Dela se espera a verdade dura, não a mentira alegre. Ela apresenta os problemas da realidade e busca soluções para resolvê-los. Sem dramas. Sem heroísmos. Sem lágrimas de júbilo ou de desespero. Não. Angela Merkel está ali para fazer seu trabalho da melhor maneira possível, ela é uma funcionária dedicada, nada mais do que isso. Mas o que poderia ser maior do que isso?
É de uma Angela Merkel que precisamos, nós, pobres brasileiros. Mas será que teríamos maturidade para eleger alguém assim? Será que seríamos capazes de não nos deixar seduzir pelas promessas vãs? Será que resistiríamos à tentação de ungir salvadores da pátria?
A paixão que os brasileiros sentem por Lula e Bolsonaro me diz que não. Não estamos prontos para administradores eficientes, porém sóbrios. Ainda ansiamos pelo super-homem, ainda esperamos por alguém que resolva por nós os nossos problemas.
Mas, ao mesmo tempo, sinto que essa situação está se transformando. Talvez minha percepção seja equivocada, mas vejo aumentar, a cada dia, o número de “pessoas normais”, que não estão cegas de amor por um candidato e que observam o que ocorre no país com parcimônia.
Seria a chance da chamada terceira via. Só que, para dar certo, a terceira via não pode ser como os polos entre os quais ela habita. Não pode ser vistosa, ruidosa ou radiante. Nada disso. Nós, os normais, precisamos de gente sem carisma. De funcionários tão competentes quanto discretos, que não contam piadas, que não fazem gracinhas, que não usam a linguagem do futebol para falar de economia, que saibam conversar mais do que discursar.
Nós, os normais, queremos um governo que trabalhe em silêncio e que entenda que a melhor política é a boa administração. Nós, os normais, não queremos que o governo lute contra inimigos, mas que apenas cumpra bem as suas tarefas. Nós, os normais, queremos paz.