A Alemanha entrou nesta segunda-feira (27) em um período de incerteza após uma eleição apertada, em que os dois maiores partidos do país defendem o direito de governar a maior economia da Europa, o que provoca indefinição sobre quem será o sucessor de Angela Merkel.
Liderados pelo ministro das Finanças e vice-chanceler Olaf Scholz, o Partido Social-Democrata (SPD) é projetado como o vencedor, com 25,7% dos votos, de acordo com resultados preliminares divulgados pelo site da Comissão Eleitoral.
A aliança conservadora da União Cristã-Democrata (CDU), de Merkel, e o partido aliado bávaro, CSU, liderada por Armin Laschet, teria 24,1% dos votos, o pior resultado em sete décadas.
O Partido Verde aparece em terceiro lugar, com 14,8%, seguido pelo Partido Democrático Liberal (FDP) com 11,5% e a formação de extrema-direita Alternativa para Alemanha (10,3%).
Na Alemanha não são os eleitores que escolhem diretamente o chefe de governo, e sim os deputados, uma vez formada a maioria.
Mas, desta vez, alcançar a maioria será algo especialmente complicado, pois deve reunir três partidos — a primeira vez que isto acontece desde a década de 1950 — devido à fragmentação do voto.
"Começa a partida de pôquer", destaca a revista Der Spiegel. "Depois da votação, as perguntas essenciais permanecem em aberto: Quem será o chanceler? Que coalizão governará o país no futuro?".
Para um país acostumado à estabilidade política após 16 anos sob a liderança firme de Merkel, os próximos meses devem representar um período conturbado. Tanto Scholz, 63 anos, como Laschet, 60, afirmaram que pretendem ter um governo formado antes do Natal. A Bolsa de Frankfurt também parece acreditar na possibilidade e abriu em alta de mais de 1% nesta segunda-feira.
Scholz decidiu pressionar os conservadores e afirmou que o lugar deles é a oposição.
— A CDU e a CSU não apenas perderam votos, também receberam a mensagem dos cidadãos de que não devem mais estar no governo, e sim na oposição — declarou o líder social-democrata. — Os alemães querem uma mudança no governo e (...) também querem que o próximo chanceler se chame Olaf Scholz — disse algumas horas antes.
Mas os conservadores, apesar do resultado "decepcionante", destacaram que também pretendem formar o próximo governo, advertiu Laschet.
— Faremos o possível para construir um governo dirigido pela união CDU-CSU — declarou o candidato democrata-cristão.
As eleições apresentaram resultados muito divididos, o que significa que os partidos majoritários precisarão do apoio de outras duas formações para conseguir uma coalizão com peso suficiente para governar.
Paralisação política
O processo de definição do novo governo pode levar a maior economia europeia a um longo processo de paralisação política durante as negociações entre os partidos. Após as eleições de 2017 foram necessários mais de seis meses para um acordo e a formação da atual grande coalizão de conservadores e social-democratas.
Para os democratas-cristãos, as "perdas são amarga", admitiu Paul Ziemak, número dois da CDU. O partido nunca havia registrado menos de 30% dos votos. Em 2017 obteve 32,8%.
Uma demonstração da queda: a circunscrição de Angela Merkel, pela qual ela foi eleita deputada desde 1990, foi vencida pelo SPD.
Os resultados projetam um renascimento inesperado do Partido Social-Democrata, considerado moribundo por alguns analistas há pouco tempo.
Um declínio desta dimensão dos conservadores ofuscaria o fim de governo de Merkel, que apesar de continuar muito popular após quatro mandatos, parece ter sido incapaz de preparar sua sucessão.
As negociações talvez adiem a aposentadoria efetiva da chanceler, de 67 anos, que dedicou mais de três décadas à política.