Embora as pesquisas de boca de urna divulgadas neste domingo (26) não possibilitem afirmar quem será o futuro chanceler da Alemanha na era pós-Angela Merkel, os números indicam tendências interessantes - algumas delas, históricas.
Sinal dos novos tempos, os Verdes tiveram seu melhor resultado eleitoral e muito provavelmente integrarão o governo. Saltaram pelo menos cinco pontos percentuais em relação à eleição de 2017, quando conseguiram 8,9% dos votos. Pela boca de urna, neste domingo (26), terão entre 14% e 15%. O desempenho só não foi melhor porque a líder da aliança que inclui os Verdes, Annalena Baerbock, envolveu-se em um escândalo de plágio e de incorreções em seu currículo, além de atrasar o pagamento de impostos, durante a campanha. Aos 40 anos, ela chegou a liderar as pesquisas no momento em que o tema das mudanças climáticas estava em alta em razão das enchentes no país, em abril. Em Berlim, os Verdes conquistaram um resultado histórico, ficando à frente inclusive da União Democrata Cristã (CDU) e do Partido Social-Democrata (SPD)
Esquerda e ultradireita são as grandes perdedoras da eleição. O partido xenófobo Alternativa para a Alemanha (AfD) deve ficar com entre 10% e 11% dos votos. Caindo de terceira força política no parlamento para a quinta, atrás dos SPD, da CDU, dos Verdes e do Partido Democrático Liberal (FDP). Em 2021, a legenda adotou um discurso anticiência, diante da pandemia, mas não conseguiu repetir resultados de 2017, triunfo obtido em grande parte graças a suas posições contrárias à migração, no momento em que a Europa vivia a chegada de uma onda de refugiados das guerras no Iraque e na Síria. A AfD liderou as críticas à chanceler Angela Merkel, que abriu as portas do país para mais de 1 milhão de migrantes. Já a esquerda (Die Linke), pela boca de urna, fez 5% dos votos e corre o risco de ficar de fora do parlamento.
Apesar do empate mostrado nas pesquisas de boca de urna, o partido de Angela Merkel, a CDU, teve o pior desempenho desde a II Guerra Mundial. Se conquistar entre 24% e 25% dos votos, terá perdido entre 14 ou 13 pontos percentuais em relação ao resultado de 2017. Ainda é a segunda força política do país, mas as chances de seguir comandando o governo, com o cargo de chanceler nas mãos de Armin Laschet, o escolhido de Merkel, são pequenas. O próprio partido já reconhece o péssimo resultado.
O Partido Social-Democrata (SPD), ao contrário, teve um melhor resultado do que em 2017. As pesquisas mostram que ele deve conquistar entre 25% e 26% dos votos - o que indica uma performance de pelo menos cinco pontos percentuais em relação a 2017. Isso faz com que Olaf Scholz, o atual vice-chanceler e ministro das Finanças, seja grande favorito para suceder Merkel. Ainda assim, pela lei alemã, nem sempre o líder do partido que conquista a maioria dos votos é o escolhido para chanceler. O nome depende das negociações pós-eleições, que já estão andamento.
Como nenhum partido tem maioria, o governo será formado por uma coalizão - como, aliás, já ocorre entre o SPD e a CDU, de Merkel. O cenário deste domingo permite diferentes combinações: a manutenção da atual aliança entre sociais-democratas e conservadores, com a inclusão de um terceiro partido - que pode ser os Verdes ou os liberais. Ou uma coalizão entre SPD, Verdes e FDP (liberais). Ou ainda uma pouco comum união entre CDU, Verdes e liberais, que excluiria o SPD e que poderia até levar Laschet a chanceler.