Sinto ojeriza por várias coisas que Bolsonaro representa. Ele é um homem grosseiro, mal-educado e falastrão. É preconceituoso, atrasado e tem o desplante de exaltar um monstro covarde como aquele torturador Ustra. Os filhos conseguem ser ainda piores. São tolos, infantis e capazes de emitir algumas das maiores besteiras já ditas na história da política do Brasil. Penso assim há muito tempo. Dois anos antes da última eleição, escrevi uma coluna sob o título "Não vote em Bolsonaro". Eu a escreveria de novo.
Feitas essas ressalvas, preciso acrescentar que estou torcendo para que o governo Bolsonaro dê certo. Porque quero que o Brasil dê certo. Por isso, cabe destacar os pontos positivos da sua gestão. Um deles é o pacote anticrime de Sergio Moro, que está mofando no Congresso. Outro é o pacote que Paulo Guedes apresentou esta semana ao país. Trata-se do mais profundo conjunto de medidas já proposto por um governo desde o Plano Real.
Guedes está tentando mexer nas estruturas da nação. Em primeiro lugar, pretende transformar o Brasil em uma federação de fato, dando mais poder a Estados e municípios. Isso é muito importante. Digo mais: essa é uma das principais razões do sucesso dos Estados Unidos. Mais ainda: a centralização do poder e do dinheiro em Brasília é a maior causa da corrupção brasileira e dos desajustes do governo federal.
Nenhuma colaboração é mais decisiva para a aprovação do pacote do que a do próprio Bolsonaro. Se ele conseguisse evitar brigas inúteis, se ele conseguisse parar de falar bobagem, se ele conseguisse conter os filhos, essas mudanças tão relevantes para o futuro do Brasil teriam grande chance de acontecer.
Uma das propostas prevê a extinção de municípios com menos de 5 mil habitantes. Só no Rio Grande do Sul há 226 municípios nessa condição. Agora calcule: são 226 prefeituras e câmaras de vereadores, com todos os seus funcionários e equipamentos. Quanto se gasta nisso? Pegue o volume imenso desses recursos e o invista em escolas, postos de saúde e saneamento básico. Não será muito melhor para as populações dessas 226 pequenas cidades?
Esse é apenas um dos pontos. Há vários outros, o pacote é complexo e repleto de escaninhos. É claro que o Congresso vai fazer suas alterações — esse também é o papel do Congresso. Mas é fundamental que a população se informe sobre cada projeto e, se preciso, que o defenda, porque temos uma oportunidade preciosa de avançar.
Agora, nenhuma colaboração é mais decisiva para a aprovação do pacote do que a do próprio Bolsonaro. Se ele conseguisse evitar brigas inúteis, se ele conseguisse parar de falar bobagem, se ele conseguisse conter os filhos, essas mudanças tão relevantes para o futuro do Brasil teriam grande chance de acontecer.
Bolsonaro tem de aprender o valor do silêncio. Foi o silêncio que o elegeu, quando ele levou aquela facada e se retirou dos debates e da campanha pública. O silêncio pode consagrar sua administração. O silêncio é um amigo que nunca trai, já dizia o velho Confúcio, 25 séculos atrás. Vale ainda, para sempre valerá. Fique em silêncio, Bolsonaro. Será a sua redenção. E a redenção do Brasil.