Peguei um carro e rodei a 65 milhas por hora para Rhode Island, o menor Estado do país, com um população inferior à de Porto Alegre. Eis a vantagem de morar nessa região: os seis Estados que compõem a Nova Inglaterra são bem pequenos, você pode ir a cada um deles em, no máximo, duas horas. Já cheguei a percorrer quatro Estados em um único dia.
Desta vez, queria ir a Newport, cidadezinha litorânea de 25 mil habitantes. É um lugar belíssimo, preciso voltar lá qualquer dia desses. Muita gente visita Newport, sobretudo para conhecer as mansões de verão que os magnatas americanos construíram na cidade nos séculos 19 e 20. São mais de 60 mansões nas quais você pode entrar pagando um preço módico, evidentemente: US$ 25 por pessoa. A mais famosa delas é uma casa com nome próprio. Chama-se The Breakers e foi erguida a mando do bilionário Cornelius Vanderbilt II.
Nome bem de rico esse, Cornelius. Mas é inviável no Brasil - um Cornélio brasileiro seria vítima de bullying sem apelação.
Essa família Vanderbilt foi a mais rica dos Estados Unidos, em certa época. O patriarca, o primeiro Cornelius, foi um dos famosos “barões ladrões”, magnatas inescrupulosos que não respeitavam limites éticos para ganhar dinheiro. E como eles ganhavam dinheiro!
The Breakers não é uma mansão; é um palácio. Está encarapitada numa falésia, com vista para as ondas crespas e geladas do Atlântico Norte. Uma das lareiras foi trazida inteira da Europa, de navio. Na banheira da madame, a mulher de Cornelius, há quatro torneiras. Uma traz água salgada do mar, porque eles acreditavam que fazia bem para a saúde. É tanto luxo por toda parte, que, confesso, cheguei a me sentir um pouco oprimido. É riqueza demais para um cara humilde como eu…
Há duas cozinhas na casa, a das comidas frias e a das comidas quentes. São cozinhas enormes, um fogão tem sete metros de comprimento. Os chefs, obviamente, eram franceses. Um dos cozinheiros tornou-se célebre nos Estados Unidos como o “Rei da Omelete”. Ele só usava ovos em temperatura ambiente nas suas omeletes, e essa informação produziu certo impacto em mim. Porque sou um adepto das omeletes, faço-as durante toda a vida, e isso significa que sempre fiz errado, pois os ovos das minhas omeletes em geral vêm do frio vulgar da geladeira.
Mas houve outra informação que foi mais grave e que abalou meu dia. É que o “Rei” preparava uma omelete em 20 segundos.
Vinte segundos!
Desde que soube disso, passei a contar o tempo de preparação das minhas omeletes. No primeiro dia, três minutos. No segundo, depois de alguma revisão de meus erros e profunda autocrítica, dois e meio. No terceiro, com treino e meditação, dois minutos e 10. Ainda chegarei nos 20 segundos. Se não posso emular um Vanderbilt, emularei seu cozinheiro. Meu único problema tem sido a objeção da Marcinha e do Bernardo, que não aguentam mais comer omelete. Que falta de solidariedade com os sonhos alheios. Revoltante.