Quando cheguei aqui, no norte da América do Norte, algumas pessoas diziam: “Esse cara está deslumbrado com os Estados Unidos”. E era verdade. Estava mesmo. Hoje, passados mais de cinco anos, as pessoas já não dizem isso. Mas podiam. Porque continuo deslumbrado com os Estados Unidos.
Esse país vasto, múltiplo e calórico é realmente admirável. A civilização americana realizou façanhas inéditas na história do mundo, porque ela é fluida e heterogênea como nenhuma outra e, no entanto, tem coesão e força como nenhuma outra.
Os Estados Unidos são, de fato, Estados que se uniram em uma federação. Cada qual é um pequeno país, todos dentro de um país maior, funcionando de forma diferente, mas seguindo o mesmo rumo. A população vem do mundo todo. Você anda pelas ruas de cidades como Boston, Nova York ou Chicago e, se prestar atenção, ouvirá gente falando em português, francês, alemão, coreano, chinês… Já contei que, só na primeira série de Brookline, cidade com pouco mais de 50 mil habitantes, são faladas 50 línguas diferentes. Cinquenta!
Ainda assim, o país se movimenta por uma só filosofia de liberdade com responsabilidade e respeito ao indivíduo. É essa filosofia o liame que dá unidade à nação.
É claro que há coisas ruins nos Estados Unidos, mas há muito mais coisas boas, nas quais nós bem poderíamos nos espelhar.
Reflexões como a que estou fazendo são useiras e vezeiras entre estrangeiros que vivem nos Estados Unidos. Nós, brasileiros, nos encontramos e começamos a comparar os dois países. Nunca pensei tanto no Brasil quanto agora, que estou do lado de fora. E foi assim que cheguei à conclusão de que sou muito brasileiro. Muito. Porque, apesar de ser, como disse acima, deslumbrado com os Estados Unidos, apesar de identificar todos os méritos que têm os americanos, apesar de ser bem tratado por eles e viver uma vida ótima aqui, apesar de tudo isso, gosto mais do Brasil.
Por quê?
É difícil de responder, mas tentarei, e para isso valho-me de um amigo americano, o Edward. Ele conhece bem o Brasil, é casado com uma brasileira, a querida amiga Greice, e tem negócios em Porto Alegre.
O Edward repete sempre algo sobre os brasileiros:
– Vocês sabem fazer uma festa!
E ele tem razão. Americanos sabem fazer eventos, não festas. As festas brasileiras é que são festas de verdade. Festa de americano, mesmo quando não é comportada, é protocolar.
Mas não é por causa das festas que o Brasil é bom, embora as festas sejam boa coisa. Festas animadas são consequências de um traço nosso, não sua causa. O traço a que me refiro, pude percebê-lo graças também ao Edward.
Aconteceu o seguinte: tínhamos marcado com nossas famílias de nos encontrar em um restaurante do centro de Boston, perto do mar. Quando chegamos, o Edward e a Greice já estavam lá. Ao nos ver, ele se levantou e abriu os braços. Meu filho Bernardo caminhava na frente, se aproximou dele e estendeu-lhe a mão. O Edward riu:
– Que é isso, Bernardo? Você nem parece brasileiro, parece americano! Vem aqui e me dá um abraço, como um brasileiro!
O Bernardo o abraçou, contente. Então, entendi. Nós nos abraçamos. Às vezes podemos brigar, às vezes podemos ser amargos, às vezes fazemos tudo errado, mas nos abraçamos. Sempre teremos esperança neste nosso país, enquanto continuarmos nos abraçando.