A política brasileira dá uma preguiça… Então, olhando assim, meio distraidamente, a impressão que se tem dos dois extremos em disputa, petistas versus bolsonaristas, é de que os bolsonaristas são toscos e os petistas mais sofisticados. Afinal, do lado dos petistas estão intelectuais refinados, como o Chico Buarque, e do lado dos bolsonaristas estão tipos grosseiros como Olavo de Carvalho e Eduardo Bolsonaro.
Essa é a impressão.
Mas é falsa, porque os dois opostos são toscos. Agora vou demonstrar isso para você que é petista e quer ser intelectual sofisticado como o Chico. Para você, que é um humanista. Para você, que aprecia a sutileza. É para você que escrevo.
Neste último final de semana, a USP cancelou uma prova da Faculdade de Saúde Pública por causa de denúncias feitas pela deputada Janaína Paschoal. Segundo a deputada, várias questões do exame tinham conteúdo ideológico. Fiquei curioso. Dei uma olhada na prova. Você, amigo petista, não vai acreditar. A prova de saúde pública não tinha nenhuma questão de saúde pública. As perguntas eram assim: “Quem é aquele que está sendo considerado mundialmente um prisioneiro político?” Resposta considerada certa: “Lula”. Ou ainda: “A saída de Dilma Rousseff da Presidência da República se deu por meio de:” As alternativas eram:
- Desvios orçamentários
- Greves dos sindicatos
- Golpe institucional
- Denúncias de corrupção
- Exigência do Congresso Nacional
A resposta correta, para os professores que fizeram a prova, era “golpe institucional”.
Todas as demais questões seguiam essa linha, mas nem preciso de mais exemplos. Bastam esses dois casos.
Tente agora, amigo petista, abstrair-se de suas crenças e convicções. Não interessa o mérito. Quer dizer: pouco importa se Lula é ou não preso político ou se o impeachment de Dilma foi ou não golpe. Não vou nem levar em consideração de que tanto o impeachment de Dilma quanto a prisão de Lula ocorreram por meio de longos processos legais, com ampla possibilidade de defesa e sem uso de violência. Isto é: foram ações sistêmicas, dentro das estritas regras do Estado brasileiro, regras que devem reger também as universidades públicas. Mas nem pense nisso. Pense nos professores universitários que redigiram a prova. Esses professores sabem que o Brasil está dividido politicamente e que, na área deles, a Educação, uma das maiores discussões é o projeto da escola sem partido.
Líderes do governo que têm postura bastante agressiva, como o ministro da Educação, repetem a todo momento que existe doutrinação em escolas e universidades, enquanto os professores dizem que não. Aí, professores da principal universidade do Brasil apresentam uma prova de saúde pública que poderia ser aplicada para candidatos a vagas no Partido Comunista da Albânia. Ou seja: os professores da USP estão dando razão ao projeto da escola sem partido. Porque ficou plasmado e evidente que a Faculdade de Saúde Pública da USP TEM PARTIDO. E não estou falando do partido dos professores, estou falando do partido da ESCOLA, tornado oficial pelo exame proposto aos alunos, já que eles só seriam aprovados se concordassem com as opiniões dos professores. Em resumo, quem é petista pode cursar a Faculdade de Saúde Pública da USP; quem não é petista, não pode.
É tacanho. É primário. É de sentir vergonha pela falta de recato dos professores.
Estamos ladeados, nós brasileiros, por uma esquerda e por uma direita bitoladas, embrutecidas, que não reconhecem seus erros e que, por isso, não evoluem. Qual será a saída? Será budista. Será o caminho do meio.