3858cib.
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo, escreveu esse código em sua conta no Twitter, na quarta-feira pela manhã, e, em seguida, apagou a postagem.
Os internautas ficaram excitadíssimos, enquanto a enigmática mensagem se manteve no ar, e teceram diversas teorias a respeito do seu significado oculto. Eu, aqui, suponho que “3858cib” seja uma senha que o ministro usava para acessar alguma rede ou site e ele a digitou por engano. Se for, é óbvio que a trocou. Portanto, não tente devassar a vida do ministro com base nessa possível senha. Será perda de tempo. No máximo, faça uma aposta no jogo do bicho.
Ministros são como os artistas de elite do Brasil: estão distantes do povo, não sentem o que o povo sente.
O que mais chamou a atenção neste breve incidente foram os comentários dos internautas em um post sem nenhuma consequência – praticamente todos pejorativos. Gilmar Mendes é odiado com devoção pela população brasileira. Há razão para isso: Gilmar Mendes é, segundo sua própria definição, um “libertário”.
Não é curioso um juiz libertário ser detestado pelo povo? A lei mais branda, afinal, deveria ser amiga de quem é oprimido. Deveria ser uma lei “mais humana”. No caso do Brasil, definitivamente, não é.
Muitos de nossos juízes e legisladores ainda não perceberam que o povo brasileiro está clamando por disciplina. Que, no Brasil, sobra clemência e falta punição.
Na quarta-feira mesmo, outro ministro, Marco Aurélio Mello, disse que o indulto de Natal é “uma tradição brasileira” e que esse instrumento serve para aliviar a pressão dos presídios superlotados.
Bem. A população carcerária, de fato, sofre pressão. Mas a população que está nas ruas sofre pressão maior ainda. O homem supostamente livre, no Brasil, vive com medo. Ele não pode levar o filho para brincar na pracinha da esquina, ele fica tenso quando para seu carro debaixo do semáforo à noite, ele dá duas voltas na quadra se tem alguém perto da sua garagem na hora de estacionar, ele evita o ato simples, humano e civilizado de caminhar pela sua cidade.
O homem livre, no Brasil, perdeu a sua liberdade. Esse problema decerto não será resolvido oferecendo tal liberdade a dezenas de milhares de presos, como querem Marco Aurélio e Gilmar Mendes. Esse problema começará a ser resolvido com a construção de novos e melhores presídios, onde os detentos possam cumprir suas penas com dignidade.
Poderia fazer aqui uma demagogia. Poderia dizer, aos ministros libertários do Supremo, que eles tinham condições de ajudar na solução desse drama: bastava não se autoconceder o último aumento de salários, que, de acordo com os cálculos dos economistas, acarretará um custo de R$ 7 bilhões aos cofres públicos. Quantos presídios poderiam ser construídos com R$ 7 bilhões?
Poderia fazer outra demagogia, essa ainda mais maliciosa, cogitando que talvez os ministros tenham se tornado tão libertários porque muitos de seus próximos estão sendo atingidos por investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, de quatro anos para cá.
Mas não serei maldoso. Acreditarei na boa vontade dos ministros. Considerarei que eles merecem ganhar salários melhores. Direi que eles estão, apenas, equivocados. Porque, ora, eles são ministros, estão lá em cima, no sétimo céu da República, debaixo de togas vetustas, cercados de assessores solícitos e bajuladores resfolgantes. Eles são como os artistas de elite do Brasil: estão distantes do povo, não sentem o que o povo sente. E, quem não sente, lembre-se: quem não sente é insensível.