O Potter tem feito uns podcasts ótimos chamados Potter Entrevista. Podcast é uma espécie de programa de rádio portátil: você ouve quando bem entender. Num desses programas, ele entrevistou o Peninha, que, Gotham City já sabe, é a verdadeira identidade do personagem que se apresenta publicamente como Eduardo Bueno.
O tema da entrevista era "Bolsonaro presidente. E agora?". O Peninha, como sempre, falou coisas interessantes. Ele é uma pessoa interessante, embora se esforce para parecer, apenas, um magano, um galhofeiro, um fanfarrão. O Collor o chamaria de "parlapatão", adjetivo do qual gosto muito por sua sonoridade repleta de significados ocultos. O parlapatão seria um pato grande que fala demais? Se for, cabe à perfeição para definir o Peninha.
Mas, como dizia, a entrevista do Peninha foi engraçada, ilustrativa e inteligente. Ele tece teses percucientes acerca do que pode ser o governo Bolsonaro. Mas, como todo intelectual, esqueceu-se da essência. E a essência são dois pontos específicos. Se Bolsonaro alcançar bom sucesso nessas duas áreas, estará mais do que realizado: estará consagrado.
As duas áreas são:
Economia.
Segurança pública.
Se conseguir melhorar a economia e, sobretudo, aumentar os índices de emprego, Bolsonaro terá percorrido metade do caminho em direção ao triunfo. A outra metade ele completará se desorganizar o crime organizado.
Bolsonaro tem chance de atingir as duas metas, desde que faça o seguinte:
Nada.
Bolsonaro não pode e não deve dar palpites na segurança pública e na economia. Tem de ser humilde e deixar o trabalho para quem entende. Por sorte, ou, antes, por sensatez, ele soube escolher os ministros que cuidarão desses setores. Paulo Guedes e Moro têm conhecimento e competência para lidar com os problemas que virão.
Guedes é o mais afortunado dos dois. Porque é praticamente certo que fará uma boa gestão. A economia do Brasil é robusta, variada, cheia de alternativas e, o mais alvissareiro, já está em processo de recuperação. No ano que vem, esse processo se solidificará. Eu diria, até, que a economia só não se recuperará se o governo fizer muita bobagem. Ou seja: se Bolsonaro se meter.
Moro terá uma tarefa mais dura. Os males da segurança pública são complexos e sutis. Pensadores de esquerda tendem a acreditar que a maior causa da insegurança é a desigualdade. Não é. É UMA das causas, não a única nem mesmo a maior. Se fosse, como explicar os Estados Unidos, por exemplo? Nos anos 70, havia mais igualdade entre as classes sociais americanas. E menos segurança. Hoje há mais segurança. E menos igualdade.
Mas não é preciso galgar acima da linha do Equador para encontrar outro bom exemplo. Tome-se o caso recente do nosso Brasil: o PT se orgulha de ter diminuído a desigualdade no governo Lula. Mas a insegurança aumentou, e muito. Além disso, fica a pergunta: por que países desiguais, como a Índia e a Rússia, não são violentos como o Brasil?
As razões da violência brasileira são a desigualdade, sim, mas também a cultura do país, sua estrutura legal, suas condições prisionais, sua geopolítica, como a porosidade de suas fronteiras. Moro terá de lidar com tudo isso. Não é fácil. Mas não é impossível. Ele pode ser bem-sucedido – se Bolsonaro não atrapalhar tendo ideias.
Bolsonaro que fique com os outros ministérios, que faça suas aventuras ideológicas, que se divirta por lá. Se ele fizer errado nos outros setores, tudo pode ser consertado mais tarde. Mas, na economia e na segurança, o Brasil não pode mais falhar.
Duas áreas, apenas. O resto fica para o próximo podcast.