Ninguém mais está prestando muita atenção ao Lula, mas o depoimento dele à juíza do Paraná, no caso do sítio de Atibaia, foi um espetáculo assombroso. Nem tanto pela postura firme e profissional da juíza, isso ganhou as redes sociais e até já virou meme. O que mais me despertou a atenção foi o conteúdo do que se disse no tribunal.
Faça um exercício: compre a tese da defesa de Lula. Compre inteira, cem por cento do que ele diz é verdade. Ou seja: o sítio não é de Lula, é de Fernando Bittar. Partindo desse princípio, o que você tem como fato nessa questão?
1. Lula era frequentador assíduo do sítio. Sabe-se que ele foi lá no mínimo 111 vezes em pouco mais de três anos, e que seus veículos passaram por lá pelo menos 270 vezes no mesmo período. Lula e dona Marisa dormiam no quarto principal da casa, há pertences deles no lugar, pedalinhos com o nome dos netos, adega, objetos pessoais, eles se comportavam como proprietários.
2. O sítio foi reformado por três empreiteiras.
3. A reforma custou mais de R$ 1 milhão.
4. A cozinha é igual à do triplex do Guarujá.
5. Dona Marisa Letícia comandou as obras.
6. Ninguém pagou pela reforma. Ou, antes: os empresários das construtoras pagaram.
Não há contestação acerca de nada disso que listei acima. São fatos sólidos de pedra. Bem. Levando esses dados em consideração, alguém como você, que acredita integralmente na defesa de Lula, haverá de se perguntar: POR QUE empreiteiras fizeram, de graça, uma reforma de mais de R$ 1 milhão neste sítio em particular?
Por quê?
POR QUÊ???
Então, você, mesmo com toda a sua boa vontade em relação a Lula, achará isso muito, muito estranho. E compreenderá que há nisso algo de muito, muito errado. Porque um ex-presidente da República pode aceitar uma caneta, um vinho ou um relógio como mimo de um empresário. Não pode aceitar um milhão. Pela razão óbvia de que ninguém dá presentes que custam um milhão. Se deu, é porque está pagando por algo. E, se está pagando, é porque comprou.
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Onde a política só faz mal
É sexta-feira, dia de repimpar-se com chopes cremosos. E de rir com os amigos, claro.
Se você é um noctívago experiente, gostará de harmonia na mesa do bar. Sem harmonia, sem risos. Sem risos, sem razão para chopes.
Por isso, você evitará, com diligência, porém delicadeza, certos assuntos pedregosos. Ou melhor, evitará UM assunto, o mais pedregoso do Brasil no século 21: a política.
Em qualquer roda, a não ser que todos tenham a mesma opinião, a política é tema desagregador no Brasil. Portanto, façamos um desvio educado, vamos contemporizar em nome da paz.
Eu faria idêntico raciocínio se fosse diretor de escola. Não estou falando de escola sem partido, nem de escola com partido. Estou falando de escola com bom senso. O debate político, hoje, no Brasil, não traz esclarecimento, não educa nem faz crescer: só causa dissensões.
A política brasileira transformou-se em um gerador de discórdia. Bolsonaristas versus petistas é coisa muito chata. Melhor que fiquem batendo boca no Twitter, longe de certos ambientes em que dever reinar a harmonia. O Brasil ainda não tem maturidade para discutir os acontecimentos deste século. Pelo menos não na escola. Nem em mesa de bar.