Cumprindo pena desde 7 de abril, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa pela primeira vez a prisão nesta quarta-feira (14) para um novo encontro com a Justiça. A partir das 14h, o petista presta depoimento na 13ª Vara Federal de Curitiba, no processo do sítio de Atibaia (SP).
Desta vez, ele terá como inquisidora a juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro desde que o magistrado aceitou convite do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para ocupar o Ministério da Justiça a partir de 2019. Lula é réu por corrupção e lavagem de dinheiro, mesmos crimes pelos quais foi condenado a 12 anos e um mês no caso do triplex do Guarujá (SP).
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), ele recebeu R$ 1,02 milhão em propina da Odebrecht e da OAS. O dinheiro teria sido usado para custear reformas no sítio onde o ex-presidente descansava, no interior de São Paulo.
Lula ainda é réu em uma terceira ação penal na 13ª Vara, por suspeita de ter recebido propina da Odebrecht na compra de um terreno para o Instituto Lula. Defesa e acusação já apresentaram alegações finais e o caso está pronto para sentença. Contudo, juristas e até mesmo advogados e políticos simpáticos ao PT consideram o processo do sítio o mais complicado para o ex-presidente, por conta da extensão das evidências que o conectam ao imóvel.
Veja a seguir alguns dos indícios contra Lula apresentados pelo MPF:
- O sítio está em nome de Fernando Bittar e Jonas Leite Suassuna, sócios de um dos filhos do ex-presidente, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha. Os procuradores sustentam que ambos são laranjas do petista, a quem o imóvel pertenceria de fato.
- Mensagem eletrônica aponta que Bittar e Suassuna foram representados na aquisição do sítio pelo advogado Roberto Teixeira, amigo pessoal e compadre de Lula. Teixeira teria redigido a minuta do contrato e recolhido as assinaturas para o fechamento do negócio.
- Em operação de busca e apreensão na casa de Lula, em São Bernardo do Campo, a Polícia Federal localizou minuta de escritura de compra e venda de parte do sítio de Atibaia.
- Veículos utilizados por Lula estiveram no sítio pelo menos 270 vezes entre 2011 e 2016. Seus agentes de segurança também foram ao local mais de cem vezes, inclusive instalando câmeras de segurança. O próprio petista esteve 111 vezes no imóvel.
- Cerca de R$ 700 mil teriam sido investidos em melhorias no local, uma recompensa a Lula em troca de contratos com a Petrobras. O dinheiro teria origem nas empreiteiras OAS e Odebrecht, além do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente.
- Dois pedalinhos com os nomes de netos de Lula, Pedro e Arthur, além de objetos pessoais, roupas, remédios e caixas de vinhos do ex-presidente foram encontrados no local. Um barco de pesca comprado pela ex-primeira-dama Marisa Letícia também foi entregue no sítio. Vários desses itens constavam em notas fiscais apreendidas pela Justiça.
- Mensagens eletrônicas sobre a reforma do sítio foram encaminhadas a auxiliares do ex-presidente. Também há no processo troca de mensagens entre um executivo da OAS e um familiar, na qual ele relata encontros com Lula para tratar da reforma.
- Executivos da OAS revelaram ter gasto R$ 170 mil em equipamentos e reforma da cozinha, supostamente a pedido de Marisa Letícia. Ex-presidente da construtora, Léo Pinheiro disse que os investimentos no sítio foram abatidos de de um acordo de R$ 15 milhões com o PT.