O empresário Emílio Odebrecht afirmou em juízo nesta quarta-feira (7) à Justiça Federal que aprovou a reforma do sítio de Atibaia (SP), que a Operação Lava-Jato diz ser do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria ocultado propinas desviadas da Petrobras. O pedido teria vindo da ex-primeira dama Marisa Letícia, que morreu em 2016.
— O que eu fiz foi aprovar, quando o Alexandrino me trouxe o assunto a pedido de Dona Marisa — disse Emílio, ouvido na tarde desta quarta, pela juíza substituta da 13.ª Vara Federal, Gabriela Hardt.
— Se eu não tivesse aprovado, hoje nos não estaríamos aqui tratando desse assunto.
A juíza ouviu ainda Marcelo Odebrecht, seu filho, e Alexandrino Alencar, ex-executivo do grupo e porta-voz do empresário com Lula.
Emílio disse que pediu orçamento da obra a Alexandrino. Disse que o valor seria entre R$ 400 mil e R$ 500 mil e que pediu que fosse usada a estrutura da construtora em São Paulo e que os funcionários não usassem nada que identificasse a Odebrecht.
— Dona Marisa fez esse pedido a ele (Alexandrino).
O empresário é réu no processo em que Lula é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Preso desde o dia 7 de abril, condenado a 12 anos e um mês no processo do caso triplex do Guarujá (SP), esse é a terceira ação aberta contra o ex-presidente. A segunda, em fase final, é a de propinas da Odebrecht na compra de uma terreno para ser sede do Instituto Lula e de um apartamento usado pela família do petista, em São Bernardo do Campo.
Filho
Não é a primeira vez que ele confessa ter ordenado a obra no "sítio de Lula". Item de sua delação premiada, homologada em janeiro de 2017, Emílio também encaminhou documento à Justiça assumindo a responsabilidade sobre o caso do sítio e isentando seu filho Marcelo Odebrecht.
Em declaração escrita ao juiz federal Sergio Moro, o patriarca do grupo Odebrecht isenta seu filho Marcelo de responsabilidade nas obras do sítio Santa Bárbara, em Atibaia. O empreiteiro afirma que competia a ele "contatos diretos" com o ex-presidente e que Marcelo tinha como interlocutores do petista para pleitos da construtora os ex-ministros Antônio Palocci e Guido Mantega.
Emílio afirma que Marcelo reportava a ele "os temas por ele tratados diretamente com Antônio Palocci e Guido Mantega que tinham relação ou envolviam Lula".
Em sua delação premiada, Emílio disse ter relatado a Lula em reunião no Palácio do Planalto, em 2010, que as obras no sítio ficariam prontas no mês seguinte. O encontro, segundo ele, ocorreu no fim do ano, próximo do fim do mandato do então presidente.
Emílio relatou aos procuradores que, no encontro, o petista não teria ficado "surpreso" com a informação.
— Eu disse: "Olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tínhamos dado no problema lá do sítio".
Anotações e e-mails foram entregues pelo delator como forma de comprovar a reunião.
Crocodilo
Emílio Odebrecht foi questionado pelo procurador da República Athayde Ribeiro Costa, da força-tarefa da Lava Jato, sobre afirmação que ele fez em sua delação sobre conversa com Lula que teria tido para pedir que os pedidos do PT fossem controlados, em que ele teria dito que eles deveriam parar de ter "boca de crocodilo e começarem a ter boca de jacaré".
O empresário afirmou que fez um pacto de sangue com Lula para custear campanhas do PT.
O caso envolvendo o sítio representa a terceira denúncia contra Lula no âmbito da Operação Lava-Jato. Segundo a acusação, a Odebrecht, a OAS e também a empreiteira Schahin, com o pecuarista José Carlos Bumlai, gastaram R$ 1,02 milhão em obras de melhorias no sítio em troca de contratos com a Petrobras.
Detalhes
O empresário disse não ter conhecimento dos detalhes da obra e que só veio a conhecer os pontos específicos, após a Lava Jato. O delator também não vinculou especificamente a reforma aos contratos da Petrobras da empresa.
O processo inclui ao todo 13 acusados, entre eles executivos da empreiteira e aliados do ex-presidente, até seu compadre, o advogado Roberto Teixeira. O imóvel foi comprado no final de 2010, quando Lula deixava a Presidência, e está registrado em nome de dois sócios dos filhos do ex-presidente, Fernando Bittar - filho do amigo e ex-prefeito petista de Campinas Jacó Bittar - e Jonas Suassuna. A Lava-Jato sustenta que as obras feitas na propriedade por empresas do cartel que atuava na Petrobrás ocultariam propinas. O ex-presidente Lula nega ser o dono do sítio.