O patriarca da maior construtora do país, Emílio Odebrecht, detalhou em sua delação premiada reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, para confirmar que as obras do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), ficariam prontas no mês seguinte. Era final de 2010, término do segundo mandato. Os delatores revelaram que executaram uma reforma de R$ 1 milhão na propriedade a pedido da ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em fevereiro).
Emílio contou aos procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato que, no encontro, o petista não teria ficado "surpreso" com a informação.
– Eu disse: olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tínhamos dados no problema lá do sítio. Emílio ainda contou que Lula não se mostrou surpreendido.
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Anotações e e-mails foram entregues pelo delator, como forma de comprovar a reunião.
A Lava-Jato sustenta que o sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, é patrimônio oculto do ex-presidente Lula, registrado em nome de dois sócios de seus filhos. Lula nega.
Segundo o depoimento de Alexandrino Alencar, que seria a ponte entre Emílio e Lula, a ex-primeira-dama teria pedido, durante um evento de celebração do aniversário de Lula, em 2010, que a construtora ajudasse a terminar as reformas do sítio de Atibaia.
O executivo teria informado Emílio sobre a solicitação. "Alexandrino me avisou do pedido de Dona Marisa e me disse para não comentar nada com o ex-presidente, pois Dona Marisa havia informado que o sítio era uma surpresa". O patriarca da Odebrecht relatou ter concordado com o pedido.
– Pedi a Alexandrino que conversasse com algum empresário nosso para identificar um engenheiro da Odebrecht que pudesse coordenar as obras, mas que nossa participação não fosse revelada, para evitar qualquer constrangimento, e assim foi feito.
Emílio Odebrecht ainda relatou que, "da parte dele", o segredo foi mantido "até o final do mandato do ex-presidente", quando houve a reunião no Planalto.
Valor
O valor final da obra, de acordo com as delações da empreiteira, foi de R$ 1 milhão. Os executivos revelaram ainda ter combinado a emissão de notas frias com o advogado de Lula, Roberto Teixeira, contra Fernando Bittar, para que a defesa pudesse argumentar que o imóvel não é do ex-presidente e que as reformas foram bancadas por Fernando.
– Pelo que ouvi falar depois que o assunto veio a público, o custo para as reformas do tal sítio foi em torno de R$ 700 mil a R$ 1 milhão, ou seja, bem maior que o valor inicialmente previsto de R$ 400/500 mil, que foi para mim repassado por Alexandrino – afirma Emílio.
Ao final do depoimento, Emílio Odebrecht ainda relatou nunca ter ido ao sítio de Atibaia.
– Eu só tive uma vez no apartamento dele quando era sindicalista, e nunca mais. Foi a melhor coisa que eu fiz para ele e para mim. A nossa relação... eu sou muito transparente. Eu gosto do Lula. Gosto, confio nele, valorizo ele, posso afirmar, se quiser desligar, desligue a câmera de filmagem do depoimento.
A reportagem entrou em contato com a defesa do ex-presidente Lula, mas não obteve resposta.
*Estadão Conteúdo