As pessoas de esquerda são muito mais chatas do que as de direita. Muito, muito mais chatas. Elas despertam os meus mais bolsonaros sentimentos. E o que me irrita nelas nem são suas ideias, até porque não sou dogmático nessa disputa entre Estado e mercado. Tudo depende da circunstância. Às vezes é preciso ter mais liberdade de mercado, às vezes é preciso dar mais controle ao Estado. Quanto às questões sociais, em geral as esquerdas são mesmo mais arejadas. Mas nem sempre. Prefiro analisar cada caso em separado.
Só que não é esse o problema das pessoas de esquerda. O problema é que elas acreditam ser moralmente superiores. Quem não concorda com elas é canalha. Ponto.
Esse sentimento se origina do conceito de luta de classes. O raciocínio é o seguinte: se o rico tem muito é porque o pobre tem pouco. Você só ganha aqui se alguém perder lá. A riqueza seria como um bloco mineral, que jamais cresce. Dessa forma, se uma parcela da população tem grande parte desse bloco, sobra pequena parte para a outra parcela. Tudo o que o Estado teria de fazer é assegurar a divisão equânime do bloco.
O capitalismo evoluiu, se adaptou e, ao equilibrar liberdade com responsabilidade, tem sido a melhor garantia de bem-estar já registrada na História
É até verdade que a fortuna de alguns foi construída com o sangue, o suor e as lágrimas de muitos, mas isso não se deu apenas no capitalismo. Ao contrário, o capitalismo evoluiu, se adaptou e, ao equilibrar liberdade com responsabilidade, tem sido a melhor garantia de bem-estar já registrada na História. Os seres humanos, os bichos e a natureza são mais respeitados e têm mais direitos exatamente nos países de fato capitalistas e de fato democráticos – vide Europa Ocidental, Estados Unidos, Canadá, Japão, Coreia do Sul, Israel.
Para as pessoas de esquerda, no entanto, isso não faz a menor diferença. A intenção delas não é resolver o problema. A intenção delas é que ELAS tentem resolver o problema do jeito DELAS. Não existe ponderação, não existe chance de que outra fórmula esteja correta. Elas estão certas e os outros não estão nem sequer errados: os outros são mal-intencionados. São cafajestes.
Essa forma de encarar o mundo, além de ser profundamente irritante, gera comportamentos irracionais, como os que ora são verificados no Brasil, no caso Lula. A defesa incondicional de Lula, exercida até por gente razoavelmente inteligente, se transformou numa espécie de demência coletiva da esquerda.
Não é possível que pessoas de bom senso não vejam o que aconteceu no Brasil. Para justificar a esdrúxula tese da perseguição do herói dos pobres, lançam mão inclusive daquele Mark Weisbrot, um tonto bem conhecido, que tem ligação histórica com a ditadura da Venezuela. Só para você ter ideia de quem se trata, tempos atrás o cara publicou um artigo na Folha de S. Paulo afirmando que os Estados Unidos têm medo da democracia no Haiti. Sério!
Meu Deus, não há uma prova, há TONELADAS de provas do que Lula cometeu, do seu relacionamento promíscuo com empreiteiros, da dilapidação criminosa da Petrobras para financiamento do projeto de poder, da rapinagem consentida em TODOS os setores do governo. O patrimônio de Lula aumentou 27 vezes em seu período na Presidência. Seus filhos enriqueceram. O triplex e o sítio são só mimos de empresários agradecidos. Mas isso não é o principal. O principal é que, para essas pessoas da esquerda, não é possível construir nada que não seja por elas e pela fórmula delas. Para elas, Lula simboliza esse anseio e, assim, todo o resto merece desprezo, boicote e desmoralização.
Há muitas pessoas boas, nesta esquerda. Há muitas pessoas bem-intencionadas. Eu diria que a maioria é. Por que, então, sua postura arrogante? Por que elas não se envergonham nem de atacar as instituições da democracia brasileira na tarefa de defender um único homem? Por que reduzem até o próprio partido nessa campanha amalucada, transformando o PT, composto por tanta gente séria, em mero relho de caudilho?
Resposta: porque elas não toleram a possibilidade de que estavam erradas. Isso abalaria mais do que as suas crenças: abalaria a ideia que fazem de si mesmas. De que elas são moralmente superiores.
É mais fácil suportar a incoerência do que a desilusão.