Desista.
Não faz nenhuma diferença derramar uma tombadeira de provas sobre os crentes em Lula, como fizeram nesta quarta-feira (24) os desembargadores do TRF4, confirmando a condenação de Sergio Moro. Os crentes podem estar cobertos de provas até os gorgomilos, podem estar se afogando com elas, elas podem estar lhes saindo pelas ventas, que continuarão a gritar:
– Cadê as provas? Cadê as provas? Cadê as provas?
Entenda que nada disso tem a ver com a cabeça, tem a ver com o coração. É objeto de fé, de crença, e com crença não se discute.
Não perca tempo em discussões, portanto. Não responda às provocações nas redes. Prefira tecer teses de futebol nas mesas de bar. Só fale sobre os filhos no grupo de WhatsApp da família.
Esse fervor ideológico de viés religioso arrasta o Brasil para as trevas. Não que todos os apoiadores de Lula sejam mal-intencionados. Ao contrário, a maioria quer o bem do país. Mas eles erram no conceito.
Já eu aqui, que, por profissão, tenho de dar minha opinião, vou dar minha opinião: esse fervor ideológico de viés religioso arrasta o Brasil para as trevas. Não que todos os apoiadores de Lula sejam mal-intencionados. Ao contrário, a maioria quer o bem do país. Mas eles erram no conceito: a ideia de que um homem, qualquer homem, em qualquer tempo, em qualquer lugar, em qualquer circunstância, possa ser o herói do povo, o defensor dos pobres contra a elite sórdida, essa ideia é, em si, infantil. Essa ideia contribui para manter esse mesmo povo na ignorância e permite que vicejem excrescências populistas. Essa ideia é a mãe de Collor, Jânio Quadros, Getúlio Vargas, Médici, Lula e Bolsonaro.
A Lava-Jato, ao contrário do que dizem os crentes em Lula, é o oposto dessa ideia. A Lava-Jato não é a operação de Sergio Moro. Nem do juiz Marcelo Bretas. Nem dos três brilhantes desembargadores que julgaram o recurso de Lula. A Lava-Jato é uma operação que surgiu e se desenvolveu a partir das instituições brasileiras, tocada por funcionários públicos sérios e competentes. Conheço alguns. São abnegados, estudiosos e honestos. A Lava-Jato são os policiais, os promotores, os juízes, os desembargadores, os advogados, os servidores públicos, os trabalhadores comuns do Brasil, como eu e você.
É assim que se constrói uma nação. Não é de cima para baixo, não é a partir de iluminados, de paladinos ou de bons malandros. É a partir da consciência de cada cidadão de que ele exerce papel importante na sociedade. De que ele tem direitos, sim, mas de que também tem obrigações.
E de que ninguém está acima da lei.
O respeito à lei é a base da democracia. Porque é o respeito à vontade do povo.
Por isso, vou encerrar citando o desembargador Leandro Paulsen, porque o que ele disse ontem deveria estar inscrito na bandeira verde e amarela e ser cantado no Hino Nacional:
"Quanto maior o poder conferido a alguém, maiores os seus compromissos e as suas responsabilidades. A eleição não põe o eleito acima do bem e do mal".