Não. O Brasil não vai virar fascista, nem vai virar comunista. Não se tornará uma Itália de Mussolini, nem uma Venezuela de Maduro. Os gays não serão enforcados em praça pública como no Irã, e as escolas não serão convertidas em madraças em que criancinhas aprenderão a pansexualidade. Seja com Bolsonaro, seja com o PT, a democracia brasileira não corre riscos.
Tivesse eu alguma importância, se por acaso fosse ouvido pelos dois lados, pediria, a ambos, moderação.
Um candidato à Presidência levou uma facada, atos violentos de natureza política ocorreram em várias partes do país, é verdade. Mas o Brasil é um país violento. O mais violento do mundo, onde não são necessárias guerras ou revoluções para que morram 65 mil pessoas assassinadas por ano. Dá uma média de 178 assassinatos por dia. Mata-se por tudo e por qualquer coisa no Brasil. Os assassinos do Brasil não precisam de motivações especiais para matar. Escolha, entre esses 65 mil crimes, os motivos que você quiser. Filtre-os e use-os para justificar a sua tese, qualquer uma. No Brasil, há violência contra velhos e crianças, jovens e adultos, gays e héteros, mulheres, negros e índios. A violência grassa nas terras brasileiras. Decerto que contra homens jovens, negros e pobres há mais violência. Mas não por sua condição, não porque eles são homens jovens, negros e pobres, e sim pelo contexto em que os homens jovens, negros e pobres vivem. O que também não significa que não existe preconceito no Brasil. Claro que há. É mais um de tantos problemas brasileiros. Assim, radicalize a política em um país violento e preconceituoso e o que você conseguirá é o que estamos vendo.
O Brasil vem se deteriorando moralmente a cada ano. Piorando a cada ano. A diferença, nesta eleição, é que divergentes se transformaram em inimigos, e com o inimigo você não convive, o inimigo você quer eliminar. Como alcançar a paz entre pessoas que não se suportam?
Faltam menos de duas semanas para o segundo turno se encerrar. Vença Bolsonaro ou vença o PT, restará ressentimento entre os derrotados. Já agora, antes de o resultado ser conhecido, os dois lados recitam termos como “resistência”, “luta”, “não aceitação” e até “vingança”. São os piores sentimentos possíveis.
Tivesse eu alguma importância, se por acaso fosse ouvido pelos dois lados, pediria, a ambos, moderação. Na vitória ou na derrota. Porque, quando existe tamanha divisão, talvez os dois lados estejam um pouco certos.
Os petistas, que estão aí há mais tempo, que já governaram o país por década e meia, poderiam compreender que eles têm de fazer uma dura autocrítica, que precisam reconhecer seus erros e que sua postura arrogante e suas campanhas sistemáticas de propaganda (“não vai ter golpe”, “é golpe”, “Lula livre”, “ele não”) só têm servido para aumentar a antipatia pelo partido e irritar os adversários.
Já Bolsonaro e seus apoiadores têm de entender a justiça e a humanidade das grandes causas do século 21: o respeito às mulheres, aos gays, aos negros. O respeito a todos. Têm de entender, também, que qualquer forma de ditadura é repulsiva. E que um país só se transforma em uma nação quando é governado para o conjunto da sociedade, não para uma parte dela.
Não é por acaso que o governo que mais deu certo, no Brasil, foi o de Itamar Franco. Porque, quando Collor renunciou, ele chamou as principais lideranças políticas do país e avisou: “Só aceito governar se todos vocês estiverem comigo”. Então, o Brasil se uniu. E foi para a frente.
No dia 29, 24 horas depois de se consagrar presidente, o vencedor da eleição deveria chamar os perdedores, deveria ser humilde, pedir ajuda, ceder um pouco, para avançar um tanto. Não é hora de arroubos. Nem de aventuras. Moderação. Por favor: moderação.