Sei bem do que nós precisamos, nós brasileiros. Precisamos de monotonia. O próximo presidente da República, o que espero dele não é a genialidade e nem mesmo a inteligência. Até prefiro que não seja muito criativo, para falar a verdade. Prefiro que ele não invente soluções ou prometa milagres. Nada de arroubos nem de grandiloquências, nada de falar grosso ou de bazófias, nada de dizer que ele é o salvador da pátria ou o defensor dos oprimidos.
Previsibilidade.
O melhor candidato não é o da mudança. É o da mesmice.
Nós precisamos, apenas, de um pouco de previsibilidade.
Estamos há muito tempo sobressaltados, pobres de nós. Faz cinco anos, pelo menos, que as pessoas terçam opiniões como se fossem floretes, no Brasil. Cinco anos de desabafos no Facebook, de rixas nos grupos de WhatsApp, de amizades rompidas. Durante esse período, o país esteve sempre na fronteira de algum grande acontecimento. Pior: várias vezes, essa fronteira foi atravessada. Houve muita excitação e muita ansiedade.
Agora chega.
Chega de manchetes explosivas, chega de notícias extraordinárias, chega de Plantão da Globo. Chega de pontos de exclamação! É chegada a hora das reticências… A hora da pasmaceira. Do remanso dos dias sempre iguais. Necessitamos de, no mínimo, quatro anos de platitude. De saber o que vai acontecer no fim do episódio. Spoiler! Nós queremos spoiler!
Neste momento, o Brasil não cresce, o Brasil não anda, o Brasil está parado justamente por sentir medo do imprevisível.
Será que o próximo presidente vai privatizar tudo? Ou vai estatizar tudo? O que está feito será desfeito? Ou o que foi desfeito será refeito?
Alguém que ouse investir, planejar ou construir em meio a tantas dúvidas não é corajoso; é temerário.
Por isso, o melhor candidato não é o da mudança. É o da mesmice. Porque não há como melhorar sem antes estabilizar.
Um surpreendente bem-amado
Agora mesmo estivemos na Rússia e nos surpreendemos: os russos gostam de Putin, apesar de ele ser um tipo de mezzo ditador e ostentar um sorriso que dá calafrios. Eu mesmo me empenhei em fazer essa investigação. Quando encontrava um russo que entendesse os rudimentos do inglês, indagava sobre o governo. A resposta quase sempre era de aprovação, e quase sempre embasada pelo mesmo motivo: Putin trouxe estabilidade ao país.
Está bem claro, para os russos, o que pode e o que não pode ser feito. Está bem claro que o que não pode ser feito será punido com rigor se for feito. O conhecimento dos limites traz segurança. E o sentimento de segurança, muitas vezes, é mais importante do que o de liberdade.
Maurício Saraiva vai pagar chopes
Um cara estável é o Maurício Saraiva. Ele fala com sujeito, verbo e complemento. Ele usa todos os plurais. Ele não faz coisa errada. Ele é capaz de querer apostar uma garrafa de água mineral sem gás. Acredita nisso? Um cara que chega para você e propõe:
– Aposto uma água mineral sem gás que…
Mas isso não aceito. Ah, não. No começo do Brasileirão, o Maurício Saraiva me veio com essa: ele apostava uma mineral sem gás que o Inter terminaria o campeonato nas imediações da Copa Sul-Americana. Respondi:
– Não aposto mineral sem gás, Maurício Saraiva, seu estável!
Então, apostamos um jantar ou 10 chopes, não lembro bem, mas me lembro do meu palpite: o Inter se classificaria para a Libertadores. Disse isso não por apenas querer contrariar o Maurício, mas porque via o Inter dotado, precisamente, deste predicado mauriciesco: a estabilidade. Odair começava a fazer tudo sempre igual em uma equipe que só tem uma competição a disputar. Lá estavam todos os ingredientes para funcionar. Está funcionando. O Inter se encaixou na terceira colocação, e já acho que é pouco. A estabilidade pode levar a um crescimento surpreendente. E a surpreendentes chopes pagos pelo Maurício Saraiva, o que é melhor.